terça-feira, 25 de maio de 2010

despir o poema



Salvador Dali "livro-árvore"

despir o poema em intervalos longos
cortar as sílabas, uma a uma, nos dedos de cada verso
e do avesso e não só por cima da mesa onde a folha
o sonho de um rumor que desliza.

despir o poema daquelas palavras que nasceram dos antípodas
clareando, na procura do que deveria ter sido a nudez pura
de Cleópatra e dos papiros, a branquidão de vestes, as letras
na magnitude de hieróglifos nas Pirâmides das paredes do Egipto.

despir o poema no exagero de te querer
como se ali os lábios abrindo o sono
os sons saindo, as roupas caindo
e não ser só o poema mas mais o desejo
de tocar a Génese, alimentar a semente
a terra e a tiara, de diamantes loucos
que serpenteiam nas ondas de um fumo rubro

e um som branco de alaúde -

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