terça-feira, 20 de outubro de 2009

lembro-me bem




lembro-me bem de ti no hotel de paris.
a avenida larga repleta de almas
as doces palavras, as mãos dadas
o casaco apertado, a cor do frio
no fumo branco do cigarro.

a japonesa de ar pequeno
a boina, o cabelo negro, o laço magro
os lábios excessivos de um rouge lascivo
os laivos de perfume que subiam.
reparaste no olhar, na mão segura
as calças de pirata sem navio
as sabrinas e disseste
"não é vénus de urbino mas olympia"
e rias, rias e rimos ao entrar na pizzaria.
o tinto "rufino" os copos de pé alto
e riamos, riamos.

"marlboro" a marca de um couro duro
no quarto, descomposto abandonado sem corpo
no reflexo do espelho no qual nos revejo.

sem fumo o telhado cinza, lousa sem giz
e tantas, tantas frases soltas que pousavam
e subiam sem raiz, livres e céleres
nos ecos de paris.
lembro-me bem de ti

e dela na avenida
a atitude longa da limousine
alguém de fama;
a sombra da boina, a luva branca
a última sabrina. a pergunta
o navio -

lembro-me bem de ti e dela naquele dia -

3 comentários:

omarpareceazeite disse...

Gostei muito do seu texto. Muito imaginativo, muito interessante este triângulo que se deixa implícito. Fiquei com imensa vontade de sugerir um corte de uma ou outra palavra, e de trocar a ordem das palavras no último verso, de forma a tornar o texto mais tenso. Posso?

ana luísa amaral

lembro-me bem de ti no hotel de paris.
a avenida larga repleta de almas
as doces palavras, as mãos dadas
o casaco apertado, a cor do frio
no fumo branco do cigarro.

a japonesa de ar pequeno
a boina, o cabelo negro, o laço magro
os lábios excessivos de um rouge lascivo
os laivos de perfume que subiam.
reparaste no olhar, na mão segura
as calças de pirata sem navio
as sabrinas e disseste
"não é vénus de urbino mas olympia"
e rimos ao entrar na pizzaria.
o tinto "rufino" os copos de pé alto -

"marlboro" a marca de um couro duro
no quarto, descomposto abandonado sem corpo
no reflexo do espelho no qual nos revejo.

sem fumo o telhado cinza, lousa sem giz
e tantas frases soltas que pousavam
e subiam sem raiz, livres e céleres
nos ecos de paris.
lembro-me bem de ti

e dela na avenida
a atitude longa da limousine
alguém de fama;
a sombra da boina, a luva branca
a última sabrina. a pergunta
o navio -

lembro-me bem de ti naquele dia
e dela -

Joana Espain disse...

E lá vamos sem navio enviesados por Paris por 'doces'. 'perfumes'. 'ecos' e rouge' e encontramos a Olympia de hoje cosmopolita apressada admirada e hoje mais dona de si. Uma delícia a alta velocidade. Gostei muito.

Joana Espain disse...

mas com menos velocidade ...havia um navio e os risos eram em diferentes direcções...Está muito bonito