quarta-feira, 18 de março de 2009

A canção de Simone

Não tive tempo de adormecer
colorir de novo as penas de esperança.
A pele eriçou finos pêlos.
Restou a posição suporte
fetal.

Lembrei a lente de aro de prata
nos tempos de escola que aproximava
voava acima ao distinto pormenor
invertia a insignificância
na qual me sinto agora
reduzido e gasto.

Consciência de não retorno
e o ser capaz de ter olhos
nas costas contando
as marcas cada vez
mais longínquas de tantos anos.

Necessidade sufocada de sair
longe do ruído, do fútil
inútil distrair de afluentes.

Nas noites fundamentais
acendem-se lumes
aquecem-se bules
de madressilva e malmequeres
que espremem a ciência desfigurada
de ínvios destinos.

Firmam-se as gotas perenes salinas
e como diz Simone:
"a gente inventa qualquer coisa
p'rá ser feliz"
recupera a tentativa, reaviva
"se apaixona por um actor
por uma actriz"
e "ri à toa p'rá não chorar"
e "ri à toa p'rá não chorar"

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