segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vontade

“a medo vivo, a medo escrevo e falo”
António Ferreira, 1528-1569


E se é verdade o que dizem
sobre o amor não ser eterno.
É devolver o que se sente
ou se pensa que sente,
já sem certeza de nada,
e guardar apenas a memória
de um mundo enganado de
perfeições inventadas.

E aquele a quem se ama,
composição de conceitos
próprios, torna-se entidade livre
de à força ser imagem  e significado
de quem precisa de o amar.

E se é verdade que o amor não é eterno.
Pouco importa,
que hei-de manter as perfeições inventadas
por teimosia de vontade,
que não escondo nem calo.
Mas entretanto,
a medo escrevo, a medo vivo e falo.


Raquel Patriarca
dezasseis.dezembro.doismileoito

1 comentário:

josé ferreira disse...

Raquel é um poema de interrogações e dilemas no qual gosto imenso da conclusão baseada na repetição:
"Vence o meu amor
nem que seja pela vontade teimosa da minha vontade/ vontade de ti/ que não esqueço não escondo não calo ( eu tirava o "a" no terceiro verso e as vírgulas nesta estrofe e na estrofe final o que acho que já é influência da Ana Luísa).
GOstei muito. Parabéns!