domingo, 16 de novembro de 2008

Quando eu era árvore


Macieira em flor Foto LGD

Quando eu era árvore

Já fui tristonha, Chorão
E os meus longos cabelos
A água tocavam
Deitava-lhe os segredos
Do meu coração.

Já fui esbelta, elegante, verde, Álamo
E ao vento, vaidosa,
Gostava de acenar
Desde a margem do ribeiro
Que a meus pés
Saltitava a refrescar.

Já fui Vinha Virgem, escarlate
Nos Outonos ocres
Que passaram
Agarrada às pedras dos muros
Que os antigos
Empilharam.

Já fui Macieira rosada de flores mil
Verguei-me carregada dos frutos
No Estio
E também fiquei despida de sonhos
Nos tempos tristonhos
Do frio.

Já fui Oliveira verde, cinza, de prata
Dei azeite, bênçãos, fertilidade
E coroas de adornar
Robusta, escutei
Os cantares
De roda dos meus troncos
Seculares.

Mas o Homem me trocou
Pela cidade do asfalto
Das torres que apontam o céu
Do fumo, das máquinas, do cimento
De mim se esqueceu
Cansou de regar-me, abateu-me,
A árvore morreu.

Faltou-me ser Pinheiro, Carvalho robusto
Cedro, Citrino, Japoneira em flor
Outras tantas…
Não, não quero ser mais árvore!
Gritei!
Cansei!

Hum…
Talvez ainda deseje ser árvore…
Adornada, em flor,
Exaltação, metáfora,
Belo nome, sugestão, tema
Talvez ainda deseje ser Magnólia
Inspirar o amor,
O poeta, um poema.

Elza

Isto foi um fim de semana de criação campestre para mim. Espero que possam saborear estas árvores que amanhã já é Segunda feira do asfalto outra vez. Boa semana!

3 comentários:

auxília disse...

Não deixe de desejar ser magnólia...
Abraço.

Nuno CA disse...

Olá,
Ontem passei por aqui a correr, li "na diagonal"... e as suas árvores passaram por mim a correr...
Hoje, com mais calma (antes de me fazer ao duro "asfalto"), passei outra vez... parei... li com atenção... e gostei muito.

ps - é mesmo verdade, temos mesmo de parar para apreciar!

josé ferreira disse...

Hoje já é segunda-feira mas na Natureza não há dias nem meses, apenas estações. Nas passagens as árvores renovam-se, renascem, dão flores e frutos. Gosto de poemas que nos fazem passear pelos campos e também como simples humanos querer atingir a perfeição.
Na Natureza há o puro e belo e nós temos o dever de sonhar, de nunca esquecer os sonhos e a capacidade de nos deslumbrar quando eles se realizam.
Observar o que nos rodeia, usar a poesia, é estar vivo e acreditar sempre num Mundo ( num jardim )melhor !