Não é estranha a sorte da pedra ou seixo
que derrotou Golias num golpe de perícia
depois de usada no dano irreversível?
Ficou a história do gigante
das grandes mãos da funda ou fisga
mas da pedra ou seixo
não estou esclarecido.
David é figura principal
alguns segundos antes
mas não como arma assassina
essa não existe ou foi mais reduzida
no recorrente efeito abrasivo.
Hoje fosse e o local a romaria
de bandeira e de lembrança.
A pedra ou seixo a heroína
preservada admirada
transparência resultante
de vitrine e pedestal.
O humano é efémero não resiste
no estado original
restaria a pedra ou seixo
como prova e essência
de palavras caídas
na gravura de uma cena
inscrita
na oferta de um postal.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Fito-me
Dizes hesitante, inseguro, pouco audaz
o caminho por onde vou
e eu não sei dizer o sim
de passo descoberto
nem como outros
não, por aí, por aí não vou.
caminho longamente junto à praia
escondo o outro sal jorrando dentro
e quando alguém me fita mais seriamente
falo do horário, do tempo, do vago
num olhar sem carapaça
e aguardo agulhas finas
que espicaçam
por onde devo ir...
por aqui ou por ali?
qual o lugar?
Fito-me e visto-me interiormente
de penas e já não quero ir...
quero voar.
o caminho por onde vou
e eu não sei dizer o sim
de passo descoberto
nem como outros
não, por aí, por aí não vou.
caminho longamente junto à praia
escondo o outro sal jorrando dentro
e quando alguém me fita mais seriamente
falo do horário, do tempo, do vago
num olhar sem carapaça
e aguardo agulhas finas
que espicaçam
por onde devo ir...
por aqui ou por ali?
qual o lugar?
Fito-me e visto-me interiormente
de penas e já não quero ir...
quero voar.
terça-feira, 10 de março de 2009
Poesia de Nuno Júdice/jardins de Monet
Passeio
Um jardim tem avenidas, áleas, alamedas, buxos
e canteiros. Por aí passam as águas das grandes chuvas
de setembro. Num jardim também há bancos, fontes,
lagos, estátuas, grutas, muros e labirintos. O vento
anda por aí, sobre as águas e entre
os interstícios. E há ainda árvores, arbustos, flores,
folhas e troncos caídos. O dia e a noite confundem-se,
por vezes, nalgumas das suas clareiras. E há também
o teu corpo, num jardim. Abraço-o, apesar das águas
e dos ventos, sob o dia e a noite das grandes
folhagens adormecidas. Por vezes, encosto o teu corpo
contra o tronco do cipreste; de outras vezes, deito-o
sobre a relva que o inverno fortaleceu. Gosto
desse corpo de terra e de raízes; mas vejo-o também
à transparência do pólen e das sementes brancas da
primavera. Passeio assim no jardim do teu
corpo: sento-me nos seus bancos; navego no seu lago;
colho as suas pétalas mais húmidas. Nunca sei
se é dia ou se é noite neste jardim; nem se a chuva
cai ou o vento sopra. O que eu sei é que todos os
canteiros vão dar às flores que brotam da tua voz; e
que no lago do teu sorriso navega este barco de papel.
Nuno Júdice
Cartografia de Emoções - Publicações D. Quixote
Esmeralda a gata siamesa
Tanto queima o astro dourado
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Estalo
Um estalo
súbito
num embalo
súbdito
mumifica
conserva-se
como servo
até gotas salgadas
o derreterem
em carne
viva outra vez
súbito
num embalo
súbdito
mumifica
conserva-se
como servo
até gotas salgadas
o derreterem
em carne
viva outra vez
domingo, 8 de março de 2009
Dia da Mulher
sexta-feira, 6 de março de 2009
Plumas persistentes
Sim é verdade que consinto
necessito
clarear o dia de plumas persistentes
nos ínfimos segundos
libertos: poesia.
Benção de açucena bela e fina
mesmo que o sentido no poema
seja forte de revolta duro de fractura
seja farta tempestade ou vela lassa
mas
sempre os tules transparentes
alvos toques de acalmia
maresias de pele morena.
Aparta-se de mim a alma
na dança breve e segura
e somos dois no mesmo espanto
de milagres de (a)letria
versos de sorvete
mantas de absinto
fatias de sonho estaladiço
na mesma forma à mesma hora
no mesmo dia ao mesmo fio;
um colar de infinito
pontos de luz
que nos funde na distância
na mesma noite de olhos unidos
na lua amiga.
necessito
clarear o dia de plumas persistentes
nos ínfimos segundos
libertos: poesia.
Benção de açucena bela e fina
mesmo que o sentido no poema
seja forte de revolta duro de fractura
seja farta tempestade ou vela lassa
mas
sempre os tules transparentes
alvos toques de acalmia
maresias de pele morena.
Aparta-se de mim a alma
na dança breve e segura
e somos dois no mesmo espanto
de milagres de (a)letria
versos de sorvete
mantas de absinto
fatias de sonho estaladiço
na mesma forma à mesma hora
no mesmo dia ao mesmo fio;
um colar de infinito
pontos de luz
que nos funde na distância
na mesma noite de olhos unidos
na lua amiga.
Um poema de Vinicius
Allegro
Sente como vibra em nós
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra
Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras
E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida
E as sombras se casam
Nos raios nocturnos
Da lua perdida
Vinicius de Moraes
Oxford, 1939
Poemas, Sonetos e Baladas - Quasi
Sente como vibra em nós
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra
Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras
E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida
E as sombras se casam
Nos raios nocturnos
Da lua perdida
Vinicius de Moraes
Oxford, 1939
Poemas, Sonetos e Baladas - Quasi
quinta-feira, 5 de março de 2009
O tempo é um não retorno e hoje vai parar
A tua voz é minha nesta tarde
Contas-me histórias
Ris histórias
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Tarde rara de saudade
Feita de beijos e sonhos
Paralelos triste no asfalto
são saudade em pedaços
Ruas de saudade
Levam a maré em sonho
Há poesia nos dias simples
Pinta-se de cor o tempo
Desmarca-se o trabalho
Ordena-se que ninguém morra hoje
Hoje é o dia que parou
O dia em que o tempo parou
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Saudade
Feita de beijos e sonhos
Vamos dar nomes às estrelas
Faltar ao trabalho
Parar o tempo
Ordenar que ninguém morra hoje
E Contar histórias
Muitas histórias
Até os beijos serem palavras
Contas-me histórias
Ris histórias
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Tarde rara de saudade
Feita de beijos e sonhos
Paralelos triste no asfalto
são saudade em pedaços
Ruas de saudade
Levam a maré em sonho
Há poesia nos dias simples
Pinta-se de cor o tempo
Desmarca-se o trabalho
Ordena-se que ninguém morra hoje
Hoje é o dia que parou
O dia em que o tempo parou
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Saudade
Feita de beijos e sonhos
Vamos dar nomes às estrelas
Faltar ao trabalho
Parar o tempo
Ordenar que ninguém morra hoje
E Contar histórias
Muitas histórias
Até os beijos serem palavras
Lento embalo
Vento dobra
Vento dança
dança e leva o meu amor
vento leva o meu amor
dentro dobra
dentro dança o meu amor
lenta lança
fere lenta
fura e dobra minha dor
lento embalo
vento embala minha dor
lento canto
inebria minha dor
vento dobra
choro dentro
dentro dobra minha dor
lento embalo
vento sonha
danço com o meu amor
Vento dança
dança e leva o meu amor
vento leva o meu amor
dentro dobra
dentro dança o meu amor
lenta lança
fere lenta
fura e dobra minha dor
lento embalo
vento embala minha dor
lento canto
inebria minha dor
vento dobra
choro dentro
dentro dobra minha dor
lento embalo
vento sonha
danço com o meu amor
Vicky Barcelona-recuerdos de alhambra
Recuerdos de Alhambra
na guitarra bronzeada de Oviedo.
Cristina submissa
ferida na úlcera de um tanino
-tinto mal digerido-
escapou fugaz em halo de seara
seduziu no abandono louro
a almofada
no terapêutico repouso.
Inebriou Vicky a noite intensa
(húmidos vapores na relva Shakespeare)
e o ponteado crescido de barba rude
face visível de Juan
na oculta raíz de poeta
melodias de Tarrega
a corda sensível.
Vicky Juan o ecrã de lua.
Supomos o chão envolto
na queda unida
romântica sina;
amarelos de Miró
pastilhas de azulejo
fantasias de Gaudi.
Vicky de alça descaída
pés descalços indiferentes
no caminho das formigas
vibra
nas cordas da melodia.
Escrevi este poema no tal desafio de poema sobre o filme de Woody Allen.
Também publiquei a música de que gosto muito.
na guitarra bronzeada de Oviedo.
Cristina submissa
ferida na úlcera de um tanino
-tinto mal digerido-
escapou fugaz em halo de seara
seduziu no abandono louro
a almofada
no terapêutico repouso.
Inebriou Vicky a noite intensa
(húmidos vapores na relva Shakespeare)
e o ponteado crescido de barba rude
face visível de Juan
na oculta raíz de poeta
melodias de Tarrega
a corda sensível.
Vicky Juan o ecrã de lua.
Supomos o chão envolto
na queda unida
romântica sina;
amarelos de Miró
pastilhas de azulejo
fantasias de Gaudi.
Vicky de alça descaída
pés descalços indiferentes
no caminho das formigas
vibra
nas cordas da melodia.
Escrevi este poema no tal desafio de poema sobre o filme de Woody Allen.
Também publiquei a música de que gosto muito.
Poesia sem nome
Ainda não havia nennhuma poesia deste poeta no blogue. gostei desta.
Nomeio constelações uso-as
para me guiarem no receio das noites
escavo corpos na flexibilidade das sombras
atravesso a manhã e ponho a descoberto
a casa onde a infância secou
o olhar desce aos gestos inacabados
satura-os de jovens lágrimas de resinas
e o susto de criança que fui reaviva
um pouco de alegria no coração.
Al Berto (1948-1997)
Vigílias
Nomeio constelações uso-as
para me guiarem no receio das noites
escavo corpos na flexibilidade das sombras
atravesso a manhã e ponho a descoberto
a casa onde a infância secou
o olhar desce aos gestos inacabados
satura-os de jovens lágrimas de resinas
e o susto de criança que fui reaviva
um pouco de alegria no coração.
Al Berto (1948-1997)
Vigílias
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