segunda-feira, 23 de março de 2009

Magritte surreal

Um soneto

E TUDO ERA POSSÍVEL


Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

A espera no Aeroporto

Interrogo
na nave pululante de outras asas abertas
onde voas borboleta?
Em que lugar do Oceano te debruças
sobre a janela altiva
oscilando o brinco
exercitando dedos soltos
libertos de sandálias claras
entrenuvens.

Interrogo da tua cor bronze
no contraste da linha azul
que intercepta o teu olhar
esvazia o espaço curto
que separa campainhas
vozes dispersas de partidas
chegadas.

E te digo
num sopro sentido de primeira vez
quanto senti a tua falta
essa ausência de metade
incompleto dividido.

E te digo
quanto te quero
mais e mais
numa chuva interdita de cataratas
intermitente
interminável.

E te digo
bom é ter de novo
a flor do teu sorriso
jardim suspenso onde pousa o sonho.

Vanessa Mae Destiny

O violino é de cristal, a música é divinal e cheia de movimento, as cores do vestido são uma tela de cores e por fim há dança- uma arte em falta na nossa poesia.
Espero que gostem!

domingo, 22 de março de 2009

Obrigada José

Obrigada (sobretudo) ao José Ferreira, mas também à Liliana, António, Marlene e outros(as) que mantêm vivo este cantinho, para que quem cá vem espreitar (como eu), não encontre apenas uma teia abandonada por “aranhas” muito ocupadas (como eu).
Obrigada José !

Saudações poéticas a tod@s
Teresa
… p.f. marquem lá outro jantar ;)

sábado, 21 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia - Ir com as aves

O hotel das camélias

Atiças-me a verbe o corpo quente
e eu descalço enfermo de mola presa
que me lance em frente na parede
dos teus braços azul organdi.
Voar no teu desejo
como oferta indefesa
dobrando asas no meu
tão refletido
no hotel das camélias.

Severa batalha de palavras
dissimuladas de metáforas e sentidos
feitas na impossibilidade ou não
de transformar a inferior realidade
na volumetria par de pupilas
como seta certa na entrega
de uma carícia de distância
canto gozo dança
tão visível interiormente
ao mesmo tempo
nos cruzados azuis e negros
olhares enfeites.

Avança um rubor de sorrisos
reactivos à mão estendida
na sede da seda dos pés
por debaixo da mesa.

Dia Mundial da Poesia

Queria deixar alguma poesia maior de poetas maiores. Procurei e encontrei este poema
"Mãe" de Eugénio de Andrade, bem declamado, falando de rosas brancas, motivo essencial para juntar o inicio da Primavera.
Hoje é o dia Mundial da Poesia e como tal como se diz no poema o melhor é escolher um pequeno minuto, num dia tão grande e fechar os olhos: deixar-nos "ir com as aves".

sexta-feira, 20 de março de 2009

O poema da interrogação

Será que sou azeite e ando à tona
ou devido à gota detergente
disperso de aura poética
me afundo num mar mais profundo
nos limos da irrealidade?

Vi nascer de frente um outro braço
um ombro, um queixo, um lábio
indeciso, curioso
e pouco a pouco um outro rosto
igual ao meu do lado oposto.

Quiz conhecê-lo falar com ele.

As palavras eram mudas de aquário
e subiam envolvidas de balão
aflitas de paredes finas, leves
tão leves que as via subir as copas verdes
as asas espantadas dos pássaros
e por fim caíam em pedaços
feitas de letras, ideias aos cacos.

Sempre subiam e sempre caíam
de rotina surreal vendo o céu
pleno de palavras
e de as perder líquidas
num imenso areal.

Da mesma forma que não se distingue
a gota no mar
o rosto, a boca, o cabelo
dissolveu-se
e fiquei sem saber qual a razão?

Se e se por acaso era um outro eu?

O que diria? O que queria?

Fiquei à toa na tona do ar
e os passos parados
recusaram andar.

Gota de azeite? Gota de mar?
Floco sem vento nos braços do ar?
Que serei afinal?

Father and Son

Esta era um dos minhas canções favoritas quando era filho e tinha 17 anos dedico-a neste nosso blogue ao meu filho da mesma idade Francisco e ao mais pequeno de treze
Gonçalo faço a ponte para completar neste dia do Pai. Desculpem a invasão.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Princípio bom

Comigo eram três e por fim eram cinco
quando nasci fruto de um princípio bom
um pai que ainda está de cabelos ao vento
brancos de oitenta.

Conta-me ainda da mesma forma
os passeios de andas nos riachos
as quedas do marfim à frente
nas brincadeiras de criança
uma vez...e outra...e outra
com a mesma graça.

Estende no olhar a história difícil
de uma grande guerra de dor, fome
e ameaça; a altura em que viu partir
os muitos irmãos nas terras de Álvares
e Bolívar- os anos sem casa cheia
nos destinos díspares ausências
nas margens de um Oceano.

Ele e ela dois nós cinco somos
sete gomos do mesmo fruto
princípio bom
onde há mais sumos de futuro.

Um pouco surdo de ruídos telegrafista
nos tempos onde os segredos eram achas
fogueiras bruleantes de uma nova Inquisição
sem liberdades feitos de estátuas
pedras de um jogo obediente:
quem ouvia calava, quem sabia assobiava
quem sofria era ilha que gritava na DGS
era esse o estado da Nação; mãos postas
bolas relvadas no chão um fado cansado.

Um Setembro passado ouve festa
casou-se a primeira neta.
Este Dezembro montou-se o presépio
uma bisneta de mãos estendidas
olhos fechados a boca aberta
linda...linda...tão pequenina.
(A mim só de filhos deu-me a saudade
de uma menina)

Não sei se lhe dar este poema
estes traços de verdade
factos precisos de meu pai.

Concerteza o abraço forte
beijos de face no sorriso da testa
e dizer emocionado que ainda
somos sete. Responderá "obrigado"
e dirá ao meu presente que não era
preciso.

Não sei dos outros e tantos são
falo do meu
do princípio bom
de mim nada digo
aguardo as palavras dos meus filhos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pinturas

A poesia da cor de Wassily Kandinsky


O poema violáceo

Violácea cor de fim de sol
no filtro de hera invasiva
sinal determinado de diferença
no esmalte de um papel vazio
branco, escutando as palavras;
pós invisíveis no recanto
do jardim.

O baloiço forçado no chinelo
arqueando o pé, trincando o lábio
embalando o verso nos poros da pele
creme protector dos sítios adversos
do lado de lá das grades onde passam
ausentes os obrigados dementes
presos de destinos sem tempo.

A brisa enrosca suspiros de tinta
fina, china, definida, nascente
de poemas sem título escorrente
como plúvias gotas de vidro polido
onde se decalcam transparentes linhas
focos giratórios de sirenes
luzes nos tuneis de razias.

Fica adstrito no sopro do vento
repetido, amigo, o toque, a companhia
alegrando os torrões onde se passeiam lírios
se esticam as estrelícias de folhas largas
o são aroma despoluído de jasmim trepadiço
as cores rubra e violeta de buganvílias
como paletas dançantes no fluir de tons
fluir de sons no Universo à parte violáceo
de poemas no fim de tarde no jardim.

À volta do Universo

gosto da canção e gostei da ideia colorida, resolvi partilhar.


A canção de Simone

Não tive tempo de adormecer
colorir de novo as penas de esperança.
A pele eriçou finos pêlos.
Restou a posição suporte
fetal.

Lembrei a lente de aro de prata
nos tempos de escola que aproximava
voava acima ao distinto pormenor
invertia a insignificância
na qual me sinto agora
reduzido e gasto.

Consciência de não retorno
e o ser capaz de ter olhos
nas costas contando
as marcas cada vez
mais longínquas de tantos anos.

Necessidade sufocada de sair
longe do ruído, do fútil
inútil distrair de afluentes.

Nas noites fundamentais
acendem-se lumes
aquecem-se bules
de madressilva e malmequeres
que espremem a ciência desfigurada
de ínvios destinos.

Firmam-se as gotas perenes salinas
e como diz Simone:
"a gente inventa qualquer coisa
p'rá ser feliz"
recupera a tentativa, reaviva
"se apaixona por um actor
por uma actriz"
e "ri à toa p'rá não chorar"
e "ri à toa p'rá não chorar"