segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

escrevo-te (II) - Lou e Rilke, um espelho de almas




caíram muitas folhas e o chão crepita nos nossos passos 
uma fogueira acesa sem chamas de lareira
enquanto
uma coluna de fumo e as  chamas dentro, internamente
no interior da cabana onde Lou e Rilke uniram os dedos
onde ela lhe alisava os cabelos e ele escrevia versos
intensos, versos intensos
versos sobreviventes e cartas que prosseguiram
para além de muitos anos –

o vento da minha cidade atravessou a Europa
desceu a serra e vem juntos das faces.
como um rio de ar cheio de ruídos
poliniza as letras em palavras
alimenta-se de folhas em branco –

como um vício, o bom vício dos afectos
que estende as mãos na pele das magnólias e as admira brancas
brancas
muito brancas e oscilantes
em pétalas de pálpebras
janelas que se abrem 
um espelho de almas –

josé ferreira 2 de dezembro de 2012

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