segunda-feira, 25 de junho de 2012

procura a metamorfose



                                               Maurice Denis


nas tardes infinitas
há árvores enormes de folhas amarelas
e um livro aberto.
 o livro pode ser de mil e uma folhas e muitas palavras
ou de grandes páginas com poucas letras.
não é o tamanho nem a quantidade que importa –

as árvores enormes de folhas amarelas
podem ter sido  inventadas.
e podes estar sentado numa mesa, num jardim ou dentro de uma casa.
se tiveres um livro aberto podes ter viajado pela Patagónia ou pela Sibéria
e podem crescer raízes na terra, assim rapidamente, num instante
com árvores enormes de folhas amarelas.
podes ser surpreendido pela metamorfose do chão –

e pode haver mais do que silêncio por debaixo das copas inventadas
como por exemplo, os pássaros ou mulheres gregas e romanas
em túnicas longas e largas -

nas tardes infinitas depois da metamorfose pode soprar a brisa
pode girar o novo mundo solar à tua volta 
antes do crepúsculo
um mundo sofisticado ou campesino
e músicas, sim, músicas, de harpa ou de flautas.
acredita na possibilidade –

as metamorfoses não surgem do acaso nas tardes infinitas
tens que as procurar.
procura sem descanso como se fossem pérolas
ou  tesouros de grutas milenares.
há uma filosofia na Grécia
que fala de pergaminhos sábios, de um oásis, de um segredo bem guardado:
o inatingível, o inalcançável e o maior de todos os bens, a felicidade -

talvez seja possível pelo sonho ou pela proximidade –

procura de todas as maneiras, não te esqueças.
abre portas e janelas.
procura sempre. 
pela genética e pelos poemas

josé ferreira

2 comentários:

Aline Carla Rodrigues disse...

Estou aqui a procurar pelos poemas, e este é tão lindo que vou compartilhar no TRIBARTE. Por que suas frases são escritas com letras minúsculas?
Só por curiosidade! Abraços, Aline Carla.

josé ferreira disse...

Olá, Aline

é muita generosidade sua, fico feliz que goste da minha poesia. quanto às minúsculas não tem grande segredo,sofri a influência de um outro poeta da nova geração, José Luís Peixoto. por vezes mudo, não me sinto obrigado a escrever só em minúsculas. é como se a poesia fosse confessional, como uma fala, um discurso de palavras.

Aline,obrigado por permanecer por este lugar e quanto à partilha de poemas, esteja à vontade, agradeço e fico sensibilizado

Abraço grande