quarta-feira, 4 de abril de 2012

Acertando os deuses no cronómetro do tempo


um céu vermelho (fotografia retirada da internet)


Sobretudo a luz que sobrepassa o luar e atravessa o dia
A luz branca de uma noite clara sem receio de ser igual
Sem o medo de ser diferente
Sobretudo o braço o teu olhar redondo
Sobretudo o laço sobre o pescoço e sobre a pele das pernas
No caminhar miudinho de um parque sem nevoeiro
Sobretudo as árvores que nos observam nas suas copas
Sobretudo o ramo que oscila como um leque desenhado
Sobretudo o espaço que não se encontra e sempre se sonha
Sobretudo o embalo morno de dedos sobre os olhos
Sobretudo o linho em fios pequenos
Sobretudo o gato no seu pêlo branco nos seus olhos azuis
Sobretudo o mundo que se escreve na perfeita essência
Sobretudo a sensação da hipérbole o lugar acima
Sobretudo o aroma lilás as glicínias
Sobretudo o jasmim de muitas flores pequeninas
Sobretudo a íris que se ilumina-

Não é o dia complicado de ideias em círculo
Não é o dia da ciência nem do mercado
Não é o dia da cidade –

Há uma linha torta que rodeia as pedras
E amacia os passos
Que faz rodar músicas numa tontura de Swing
Por entre árvores e pássaros que acompanham
Uma orquestra de claves e colcheias seguidas
Um contrabaixo e dez violinos
E o ilícito de ser enorme o salão o parque dos sentidos;
O teu corpo rodando
O arco ousado de um movimento
A revolução da seda e dos diamantes
A luminosidade dos poemas num fim de tarde
Um crepúsculo intenso incendiando cimentos
Um céu vermelho

Acertando os deuses no cronómetro do tempo –


josé ferreira 3 de Abril 2012

1 comentário:

liliana disse...

Que lindo José, gostava de ver o céu assim, vermelho, com os deuses a acertarem o tempo :) Que bela viagem!