quarta-feira, 7 de março de 2012

águas de março



caíram três pedras de chuva sobre as folhas da mesa .
preocupa-me o teu olhar sobre a inconsistência
a minha a tua a de sempre.
preocupa-me a tristeza de portas fechadas
as que sentem –
tenho escrito menos palavras sossegadas
menos poemas de natureza
aqueles que se debruçam sobre jarras transparentes;
um ramo de tulipas amarelas, grandes, belas, ainda presas
nos seus corpos pendentes, como sol e sobremesas
brilhantes, luminosas, belas, grandes, amarelas, ainda presas
recolhidas num campo imaginário, um lugar de simbolismos
embora adquiridas num fim de tarde
entre a compra de quatro iogurtes e um vinho rouge
na loja útil de um supermercado -

caíram três pedras de chuva sobre as folhas dispersas
criando borbulhas de celulose, brancas
que se levantam e deformam as letras, armando-as de sal
amando-as, um pouco antes de serem de novo planas
de novo exactas e exaustas, na solidez do tampo –

caíram três pedras de chuva sobre as folhas agora âmbar.
há um oceano de silêncio e em nenhum bar soam músicas de blues
teclas de trompetes, vozes roucas de Armstrong , pianos de Casablanca –

e é março, e as águas murmuram nomes –

josé ferreira 6 de Março 2012

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