segunda-feira, 4 de julho de 2011

intervalos de palavras e lábios fechados





Na manhã embuçada de branco calam-se os passos certos,
de meio metro, junto ao mar;
falam os búzios grandes -

Na curta distância do azul , o manto húmido da neblina;
um limite ao ruído das águas, o oceano cíclico
onde ondas imaginárias se enrolam, urgentes,
e se estendem molhadas nos desertos resistentes -

No areal não é o tempo de barracas, apenas um guarda-sol, deitado,
listas brancas, listas fixas e quatro pés que se cruzam
na percepção permitida da sombrinha, vista de cima
e em suposição de outros formatos, abraços, lábios
intervalos de palavras e olhos abertos -

duas pombas pousadas não usam as asas e assinam as areias
contornam as rochas como soldados nos domínios de vigilância
mas o local tem marcas de uma outra época, sem semelhança
quando o sol brilhava e os dias eram de Agosto;
brasas acesas, um forno de poemas, palavras bravias
palavras doces, marcas de dentes no pescoço
filamentos de cabelos caídos, por entre os dedos -

nas malhas deste novo tempo, este dia
há milhares de minutos perdidos
quando os medos nos prendem os sentidos
e é bem verdade que nas páginas de filosofia
há um excesso de incerteza e a inconstância
na divagação estéril sobre antigos pensamentos
Sócrates, Schopenauer, Nietzsche;
a tentativa inóspita e absoluta do conhecimento
e o esquecimento do simples;
mesmo na poesia, na essência que se pretende pura
não se explica o voo das abelhas:
se andam doentes e não polinizam as flores;
um perigo para o planeta -

e as flores são únicas e breves
nas pétalas, no pólen, indizíveis, inconhecíveis na totalidade
como a pele das mulheres quando exigem os remos dos lábios
na travessia arrojada de um silêncio de margens -

José ferreira 3 de Julho de 2011

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