sexta-feira, 15 de abril de 2011

XXXV - Um poema de Pablo


Salvador Dali "A aparição da cara de Afrodite" 1981

A tua mão voou dos meus olhos para o dia.
A luz entrou como uma roseira florida.
Areia e céu palpitavam como uma
culminante colmeia cortada nas turquesas.

A tua mão tocou sílabas que tilintavam, taças,
galhetas com azeite amarelo,
corolas, fontes e, sobretudo, amor,
amor: a tua mão pura poupou as colheres.

A tarde foi-se. Secretamente a noite deslizou
sobre o sono dos homens sua cápsula celeste.
A madressilva soltou um triste aroma selvagem.

E a tua mão voltou voando do seu voo
a fechar suas penas que julguei perdidas
sobre os meus olhos devorados pela sombra.

Pablo Neruda "Cem sonetos de amor" Trad. Albano Martins, Campo de letras

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