terça-feira, 19 de abril de 2011

DE SONETO

Não gosto de almofadas do avesso.
Confesso
que as paredes não me encantam tão vazias,
ou que em chás não me suspiro das ausências
- manias.
Mas tentei ferver-te brando e não havias
E tu sabes que eu só durmo de mãos quentes.

Orfeu chega-me leve e de soneto.
Das rendas e das linhas pouco havia,
mais voltas
e o meu pé não descosia
- e a lua tão maior fora do berço.
Das notas
não pretendo o que não peço
- e o sono que me vira sem avesso.

Voltaste,
mas os linhos não cosiam.
E as luzes sem Sul
e ovelhas silvestres
- fragmentos.
Não tinhas pés mas tinhas ventos.

Ocorre-me que é fraco o meu registo
que outrora não serias tão vazio
- como de nuvem.
penso
mas tão pouco do que existo
que as fronhas menos são que neblina.
Não danças, eu aceito
não insisto -
sem tranças não me sinto tão menina.

Ficaste.
Mas não venhas sem maneiras,
sabes que sou mais joelhos
do que travos de canela.
As preces não tas rogo sem olheiras.
Não venhas
que dispenso mais barriga
ou noites em que passes sem leveza.
Não durmo e já duvido que consiga.
Ficaste
mas o céu já não abria -
e eu sou toda cotovelos sem poesia.

O chá já me arrefece as más decências.
Não quero mas suspiro-te as ausências.

Vai, podes ir.
Complacências de quem ama sem dormir.



Maria Inês Beires
ps: só agora me lembrei que não tinha publicado este!

1 comentário:

josé ferreira disse...

Inês, claro que era imperdoável não publicares. "Confesso" que gostei do "De Soneto" e em especial das "luzes sem Sul e ovelhas silvestres -fragmentos", para além da melodia bem disposta nos versos da insónia.

Abraço