sábado, 5 de fevereiro de 2011

A arca (supostamente) de Noé



O mundo está a mudar, e muito depressa. Na ausência de eficácia e convergência nos protestos provenientes da espécie dita esclarecida, os animais têm vindo a utilizar aquilo que têm mais à mão (passo o animismo imperfeito), para sacudirem a ordem do dia e o establishment de um mundo que ainda chora de noite quando acorda, está tudo escuro e não vê nem a mãe, nem o pai por perto.
Alguns historiadores, zoólogos e defensores de um Criacionismo de pendor sueco e obsceno acreditam que os animais se reuniram muitas vezes em surdina enquanto o homem vigiava a sua frincha de inocência, tomada tantas vezes pelo gigante da incoerência nítida.
Muitos acreditam ainda que os animais estabeleceriam planos que combateriam a estratégia paraplégica de uma espécie que reinava com a convicção de que era sublime (e apenas sublime!), e de que, por isso (ou nem por isso), lhe era conveniente existir acima e ligeiramente abaixo de todos os séculos, expectativas e erros, conforme a disposição daquele dia.
Pouco tempo depois, os animais – ainda segundo fontes do Novo Criacionismo – assinaram um tratado que mencionaria estar para breve o fim dos tempos de um certo tipo de sabedoria. Colocaram entre aspas “sabedoria” e “certo tipo”, mas não “o fim dos tempos”. Propuseram novos slogans, verdades, diálogos, mentiras e escatologias débeis. Deseducaram-se como uma pétala que foge à flor, por uma questão de milímetros. E tornaram-se reis, depois de violarem a única mulher a bordo e assarem na brasa a bondade de Noé, que, dizia-se, tinha um lombo impecável, se o molho se fizesse de véspera e a as batatas reluzissem.

1 comentário:

josé ferreira disse...

Olá André
Já estava com saudades destas metáforas bem contadas da realidade.

Abraço