sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

sabes


Renée Magritte


sabes, não pretendo ser chato
nem bordar todos os dias as malhas gasosas
a filosofia, aquela procura infinita
a realidade de nada ser e uma possibilidade de
um dia, algum dia, fazer parte de uma alínea
de um tratado de fórmulas científicas
se y igual a n e x variável dentro de z .

mas sabes, não pretendo ser chato
andar de roda de um círculo
e dizer que, tudo de novo, nada é
daquilo que podia ter sido
e sendo assim, será diferente, do mesmo
do mesmo de outro dia.

sabes, não pretendo ser chato
portanto, pouso os versos no prato
tempero, corto, recorto, e acrescento
depois aprecio o aspecto de um instante
deixo arrefecer, de quentes vapores
e protejo, com película aderente -

ah, não pretendo ser chato
mas, como sabes, os versos, são setas
impacientes, e sinto a dúvida se depois de frios
o efeito, mesmo o sentido… ponho-me a pensar…
e cai-me em cima o Platão, de vestes brancas
e a caverna, a luz, o perigo das sombras
a alegoria -

e lá volta de novo a filosofia -

1 comentário:

Teresa Almeida Pinto disse...

é por este e por todos os outros poemas, qu por aqui leio, que nem me atrevo a impestar com palvras minhas, este blog. Fantástico José! quem o leu e quem o lê, nota a diferença. e bem-haja, sempre!