segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

HOMEM NO ARAME - POEMA - SYLVIA BEIRUTE

















HOMEM NO ARAME

O essencial é delinear movimentos no céu. Movimentos
tão silenciosos que não deixem traço. O mais importante é a simplicidade.
É por isso que o longo caminho para a perfeição é horizontal.
..............Philippe Petit

e ele tenta incomodar a inexistência.
o nada lá em baixo. o ninguém de tempo
solto e explicações ofídicas.
a pessoa certa está por cima das nuvens.
como se se pusesse longe.
como se escondesse o medo.
como se se escondesse do medo.
e o arame da voz nos pés. o arame da voz
é agora cada coisa, cada janela aberta para
um sono de letras que desorbita
o queixo do mundo. o queixo
na forma de uma desforma do mundo
que lê marx e leminski, conhece
antíteses terapêuticas, predomínios
estranhos no desejo de um corpo de lugares.
e ele continua connosco. philippe
petit entre as torres gémeas, incomodando
a inexistência, sorrindo sobre a saudação
do coro, escamas de palavras que o orgulham
e cegam.

Sylvia Beirute
publicado no blogue "uma casa em beirute"
.

2 comentários:

josé ferreira disse...

Sylvia, gostei muito do poema " e ele tenta incomodar a inexistência "o arame da voz nos pés" " o nada lá em baixo" "um sono de letras ...o queixo do mundo" e a sensação que "como se escondesse o medo" em cada passo avança, como avançou em 1974 quando as torres gémeas eram e agora apenas fazem parte da inexistência. Obrigado por publicar.

Sylvia disse...

sim. o poema acaba por ser sobre a transição do tempo, não é verdade? ;)

boas festas para si e para os seus, José.

S.