quinta-feira, 28 de outubro de 2010

o fumo embarca em espiral e sobe pelo quarto


( fotografia retirada da internet autor desconhecido)


o fumo embarca em espiral e sobe pelo quarto
incondicional e vago no distúrbio de um silêncio.
um relógio marca o tempo
no pêndulo suspenso de uma casa suíça
e a ausência de cuco. som nenhum –

o fumo choca no paradigma e esvai-se como uma estação aliviada
depois de uma partida, aguardando
o preenchimento de um banco onde algum, alguma
pouse uma mochila, abra um sumo e reduza uma sande
a um ponto final, um dedo esticado no resto da maionese.

o fumo sobe e desaparece. cai a cinza.
e uma outra vez arrefece enquanto sobe e ganha notoriedade.
depois desaparece
até que o filtro, o pouco cigarro, consumido , esmagado .

permanece uma grande dor de cabeça
e um remédio de pastilha que coloca um véu branco
um dossel semi-opaco como cortina de um teatro

do outro lado

sobressaem algumas manchas de morango
uma casca de banana, um aroma de canela
e passos breves, pontuados de intervalos
que reflectem a sombra -

os trechos das peças de Shakespeare são longos
exigem a energia da água, rios indomáveis
o dramático, a exigência de uma cena, um quadro –

pelas paredes do quarto
os lábios subitamente secos, o silêncio
as cinzas e um estalido de fósforo sobre a lixa
um relâmpago que dispara, a chama
que de novo acende –

o relógio parado, o cuco doente –

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