domingo, 2 de maio de 2010

Sem Receita (Alice Ruiz)

Ouçam. É lindo. Tem que seguir assim, porque não consigo inserir o vídeo...
Um abraço,
ana luísa

http://www.mpbnet.com.br/aliceruiz/discografia/perolas.aos.poucos/sem_receita.htm

Primeiro, lenta e precisamente,
arranca-se a pele
esse limite com a matéria.
Mas a das asas melhor deixar
pois se agarra à carne
como se ainda fossem voar.
As coxas, soltas e firmes,
devem ser abertas
e abertas vão estar
e o peito nu
com sua carne branca
nem deve lembrar
a proximidade do coração.
Esse não.
Quem pode saber
como se tempera um coração?

Limpa-se as vísceras,
reserva-se os miúdos
para acompanhar.
Escolhe-se as ervas,
espalha-se o sal,
acende-se o fogo,
marca-se o tempo
e, por fim, de recheio,
a inocente maçã,
que tão doce, úmida e eleita
nos tirou do paraíso
e nos fez assim:
sem receita

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