quinta-feira, 27 de maio de 2010

Cerejas do fundo*

Uma rapariga comia cerejas, descalça na praia, e as ondas vinham e levavam os caroços. E no fundo do mar os caroços davam cerejeiras. E no cimo, com os pés molhados e salgados a rapariga comia cerejas numa praia perto de Nagasaky. Um cogumelo de fogo e fumo formou-se no ar e o mar contraiu-se com as cerejeiras no fundo. E a sombra da rapariga continuou a comer a sombra das cerejas: E as sombras dos pára-quedistas descem, fluorescentes no ritmo sobre a tarde roxa: e a sombra roxa recheia de susto os pescadores, todos eles com ametistas nos bolsos.

Mais tarde Mina cantaria Nagasaky Blues.

Nuno Brito

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