terça-feira, 23 de março de 2010

Domingo, velhos, crianças



Era domingo, e os velhos tinham mais cabelos brancos
na rendição. Mais consoantes mudas. Mais habilitações
para deixar de falar.

A injustiça invade de neve as cabeças dos mais incautos
e aos domingos a minha espécie é de uma sinceridade trágica
e insular e adoece em todo o seu enunciado

depois, um longo repertório de passos dados em falso
põe cabelos brancos nos homens e humidade
nas paredes irónicas que educam o cenário

atrás esconde-se uma fábrica de misericórdia
pouco merecedora de aplausos ambientais
e à sua volta brincam crianças lendárias
com elementos provenientes do carnaval
oportunista da sua vida real
e é nas suas perucas loiras de esperança
que agora pousa o meu olhar.

3 comentários:

josé ferreira disse...

André mais que um poema é uma reflexão contemporânea contra a indiferença. as realidades mudas de cabelos brancos têm que acreditar que algo de bom pode acontecer com as "perucas louras das crianças".

Abraço

Joana Espain disse...

Olá André

Gostei muito destes versos:
'A injustiça invade de neve as cabeças dos mais incautos
e aos domingos a minha espécie é de uma sinceridade trágica
e insular e adoece em todo o seu enunciado'.

Bem vindo!!

André Domingues disse...

Querida Joana,

obrigado pelas tuas palavras.

Nem todos os dias da semana são saudáveis. Domingo é o dia dos velhos nevados.

Um beijo