terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Regresso ao Desassossego

Agora que te penso e que te deixo
Lembro-me da letargia que me davas
– Esse aconchego tão estonteante –
Mergulhado em mil delírios, sonhos
Mil, sem ânimo viril para o caminho.

Agora, companheiro de infortúnio,
Viajo de regresso ao desassossego,
E não nego que não é fácil este viver
Sem ti – trago o mundo todo sobre mim
E por isso atiço o teu fantasma em mim.

Como era tão mais fácil ter-te à mão
Apagando a minha solidão e a noite
Sempre a trespassar-me. Tu eras o afago
Que eu não tinha, a sensação etérea
Que eu buscava para transpor o meu
Deserto – agonia a corroer-me a alma.

Agora que sou senhor do sofrimento,
E embora pense em ti, ópio aliado,
E nesse tempo aturdido que me deste,
Ensaio outra luz, outro deslumbramento –
Pés firmes no chão experimentando a vida.

2009.12.15
José Almeida da Silva

3 comentários:

josé ferreira disse...

José gostei muito deste "regresso ao desassossego"corajoso, forte e sofrido de "pés firmes no chão experimentando a vida". uma verbalização realista que não é salvação, longe do "ópio aliado", mas é luta e expiação.

Abraço

Clara Oliveira disse...

Enfrentar a vida, com tudo de bom e de mau que ela comporta, a seco, sem anestesia, sem ajuda, é de extrema coragem. Experimentar o deslumbramento da vida nas palavras deste poema faz-me sentir que vale a pena. Bj

Clara Oliveira disse...

Enfrentar a vida, com tudo de bom e de mau que ela comporta, a seco, sem anestesia, sem ajuda, é de extrema coragem. Experimentar o deslumbramento da vida nas palavras deste poema faz-me sentir que vale a pena. Bj