sexta-feira, 16 de outubro de 2009

(in)colocado


Fotografia retirada do blog "cités obscures"


há um cansaço à espera de sábado
neste ar demasiado luzente e caldo.
a melancolia de um mocho num ramo de pinheiro
o formato da copa, uma seta.mas esta é apenas
uma imagem, uma metáfora, não vejo pinheiros:
uma tília, um arbusto sem nome, uma magnólia.
o silêncio cúmplice do jardim nas artérias
cor de saibro, clareando ainda mais o espaço
de um Equador, luzente, caldo, nos meus pólos.
a alma enrola-se pequena, encolhe como o caracol
sua dentro da sua única casa, os poros abertos
como janelas de onde sai a chuva, o cansaço.

do outro lado o ouro de um cogumelo mágico
raiado numa selva de dedos no teclado branco.
os concertos. os consertos de alma, fluidos,
no berço de uma clave.

Sol porque assim começou luzente e caldo
na opacidade do ar. sem ser sábado.

(in)colocado como uma flor de plástico
sem viço nem aroma no interstício de uma rocha
exótica, da arábia, da china, talvez de áfrica.
como um robalo na hora de um prato, fumegante,
no restaurante, do alto, olhando o mar da foz
(inal)cansado.
flutuo no lugar da música
sem a razão e os minutos de um sentido
sem pés, sem patas, sem mãos, sem garras
no interior de uma lamparina
e amanhã é sábado.

1 comentário:

Joana Espain disse...

Cuidado que o mar na foz existe:) Gostei muito do texto. Amanhã é sábado em pontas para mim.