terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Mercador de Veneza

Tarde parda de domingo
algumas gotas de chuva
poucas na praça.

Desafio de segredos e espantos
nas falsas modéstias de um balcão
cadeiras soltas veludos gastos
de cor rubi junto à coluna
pessoas muitas.

O Mercador de Veneza época áurea
o fosco judeu brilho de usura
alguns mais personagens no cenário.
História de anos talvez trezentos
os tormentos deduções e aventuras
nem tantos talvez minutos.
Nas luzes do presente
nas rotinas escuras de
cidades consequentes
homens tantos mulheres várias
amores pedintes riquezas raras
são intermitentes raízes sempre
em séculos de idades.

Cofres ouro prata chumbo
alegoria cristalina de mensagem
súmula do conforto no posfácio
prémio defesa subtil que destina
o suspenso final que oscila
entre um quilo de carne humana
e a suprema entrega da sua amada!

Ganham os bons julgados fracos.
Sem a filha, as moedas, a vingança
perdem os fortes que no fim
se tornam fracos.

2 comentários:

auxília disse...

"amores pedintes riquezas raras
são intermitentes raízes sempre
em séculos de idades"

Gostei muito deste seu modo de ver "O Mercador de Veneza", José. O teatro a fazer-se poesia. Gostaria de utilizar este poema para dar aos meus "meninos", completando, assim, a nossa ida ao teatro, não numa "tarde parda de domingo", mas numa noite sebástica. Posso? Obrigada também pela citação da fonte do poema de Ricardo Reis...
Beijinho

josé ferreira disse...

Olá! Claro que pode usar os meus jogos aprendizes de artes de versejar, fico muito contente em poder contribuir com a minha visão de uma peça do sempre surpreendente
e grande prenunciador de muitos poemas filhos - Shakespeare.
A citação não tem que ser agradecida é merecida.
Foi muito gratificante e curioso porque embora já tendo o livro não me tinha apercebido do seu magnífico texto e da comum admiração pelo poeta "Pessoa" aquele que desmancha os sentimentos como quem planta rosas num jardim - máximo diverso e original- o verdadeiro único e inigualável "heterónimos".

Bjo e até breve