sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Água em nós

A lenta dança da chuva
Neste sussurrar cinzento de neblina
Manhã ténue
Vento e chuva
O verde escuro da árvore parada
Danço com o vento esta chuva interior
Dói-me a chuva
Ritmo cinzento cardíaco
Bate lenta a chuva
Bate lento o peito adormecido
A lenta dança da chuva
Rouba o vento as minhas folhas
Neste sussurrar cinzento de neblina
Ouço água imensa que me inunda
A árvore é indiferente
Ao vento, à chuva, ao céu
Interna árvore parada
As pernas imóveis num tronco
Os ramos braços inertes
A lenta dança da chuva na minha face
As folhas verdes caindo
A minha face em água
Dói-me a chuva
Danço com o vento esta chuva interior
As lágrimas
Só gotas de chuva
Água interna parada
Árvore interna parada
Eu inteira parada
Choro chuva
Sou a árvore mais parada da rua nesta manhã
Rouba o vento as minhas folhas
Ouço água imensa que me inunda
Parada
Eu chuva.

3 comentários:

josé ferreira disse...

Liliana gostei da forma como invadiste a alma de uma árvore e sentiste a chuva de tal forma nas tuas folhas, que nela te incorporaste
no final " Eu chuva". Há dias comecei um poema baseado no mesmo princípio de ser árvore e foi uma coincidência interessante encontrar o teu.
Gostei e em especial na forma como acabaste "Sou a árvore mais parada da rua nesta manhã/Rouba o vento as minhas folhas/Ouço água imensa que me inunda/ Parada/ Eu chuva.
Parabéns.

Joana Espain disse...

Gostei tanto! Que fusão tão bonita...Parabéns.

auxília disse...

Gostei muito desta intersecção chuva/eu. Há um tom pessoano que faz lembrar "Chuva Oblíqua".
Beijinho