sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Bonitas as árvores

"Bonitas as árvores?" e tu dizes nada
atento ao toque, trinados metálicos
feitos de moda e metal imediato

"A Bolsa sabes! Não é dia! LIgou-me
o Estevão!"

Assinei de palmas as penas do chão
as folhas castanhas secas fluídas
carapaça olfactiva de terra negra
e de uma formiga essa sim atarefada
de um ponto branco, uma migalha.
Centrei-me nela indefesa tão pequena
ampliei de vista as antenas, a cabeça
ametista, a pata levantada soltando
a baga, a gota cansada de caminho
e ela fugindo, ela por baixo
por cima a migalha.

"Gosto das árvores no Outono
erguem os braços fortes, finos!
Vês deste lado, um esquiço
um "Siza" chino, traços leves
fundo azul.
Gosto das cores cambiantes matiz
o som dos passos na forma elástica
interminável de um poema, estala."

E tu calado estendes a mão no meu ombro
afagas a pele; que interessa a palavra
a biologia do resto?

"Não queres sentar? Abrimos o jornal
não sujas o fato. Anda. Aqui no relvado.
Lembras-te do silêncio da Serra
no casebre de madeira da Estrela?

"A Bolsa sabes! A todo o momento..."

E os meus olhos dentro de mim:
vejo um prado longo de verde
umas meias longas brancas
umas tranças
uma Alice de tufos macios
um relógio grande de fadas
e imagino outras palavras:

"Bonitas as árvores?"
- Sim! Bonitas as árvores contigo ao lado!"

Maria-

1 comentário:

A. Roma disse...

Caro José,
Bom assistir à continuada revelação dos seus belos poemas. Há neles uma continuação, como cada poema seguisse o outro e construísse uma unidade de bolsas de afectos sensíveis pessoalíssimos.
Umas vezes, revejo-me nos seus versos como se tivesse nas mãos um guia para me ajudar a encontrar uma nova forma de amar a natureza, contrariando os meus passos distraídos no pisar indiferente da terra em dias secundários.
Outras vezes, qual Epicuro, apenas disfruto, apenas sigo as imagens, apenas faço Stop a cada verso que aproveito para recolher prazer.
Sim! Quero assumir o prazer da poesia. Enaltecer essa propriedade.

Preciosa a imagem do homem atento à bolsa e o contraste com a Maria.
Lembro-me de muitos que conheço a quem gostaria de mostrar este poema. Talvez lhes fizesse pensar um pouco...gosto de pensar que sim.

Abraço e até breve