quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Azul cobalto- os dois rostos num aperto

Este poema foi escrito em paralelo com o que publiquei anteriormente da "Maria"
e pretende criar um ambiente a que chamei " Díptico do desencontro"


Azul cobalto- os dois rostos num aperto

Acordei preso de pétalas
amarelo malmequer
rodeado de cabelos em ogiva
os dois rostos num aperto.

Diria o sonho extinto
não fosse a flor na jarra
azul cobalto
que rodava crendo-se viva
sorrindo na volta do vidro
caule esguio de uma linha
na mesinha onde sopra
seiva verde de permeio
entre o linho do tecido
e o mármore cinza um pouco frio.

A luz ténue matinal
película fina
qual imperativa razão
desce lenta a persiana
adormeço de novo
no mesmo sonho

e
sinto-me de ti como o crepúsculo
prisioneiro na longínqua serrania
num rubor rosa de nuvens

os dois rostos num aperto
e um bailado
dos teus braços de alimento
ao meu corpo em desconcerto
tonto ao sê-lo.

É sonho bem sei
e planeio
bem mais do que um simples devaneio
poemas de palavras
que te toquem os cabelos
com ternura
as mãos dadas e os passeios
de aromas silvestres sabor de amoras
que te troquem os jeitos a postura
a miragem de um oásis
nos sossegos do teu seio

e ser eu o jardineiro
de ganga e saco de juta
na procura das sementes
no canteiro dos teus lábios
doce rosa de Alladin.

É sonho bem sei
mas a flor diz o contrário
na jarra côr azul
azul cobalto

os dois rostos num aperto
tontos dois tontos
sem sê-lo

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