domingo, 7 de dezembro de 2008

I.R.S (Investida Ruidosa ao Silêncio IMPOSTO)


Que farei quando tudo arde
Sá de Miranda (1481-1558)

Sobem protestos
Em alto som
Esmagas o grito
Abafas o tom

Asfixias

Trazes de volta
O silêncio imposto
Volta a revolta
Medos no rosto

Angustias

Tua existência
Numa fogueira
Tua insistência
Queimar inteira

Nós queremos

Teus olhos surdos
Sinal de aviso
Os teus discursos
Sem improviso

Queimaremos

Tua arrogância
Numa lareira
Pôr-te à distância
De que maneira,

Nós faremos?

Talvez assim
Neste poema
Ardas por fim
Saias de cena!

5 comentários:

josé ferreira disse...

Marlene essa abordagem que fazes ao tema proposto é muito original, de duplo sentido, e como no anterior tem um ritmo muito musical que me agrada. Gosto da forma imaginativa como constróis as poesias.
Parabéns!

Joana Espain disse...

Está lindíssimo Marlene. Ambíguo o suficiente para ser de intervenção e de amor! Gostei mesmo muito.

José Almeida da Silva disse...

Marlene, gostei muito do texto que não poder ter mais actualidade: iça a consciência do colectivo ("Nós"), demonstra a estatuto de intervenção, pondo-se ao mesmo nível do ,interlocutor ("Tu") e decide pôr termo ("Queimaremos"), convidando os leitores à acção: «Nós faremos // Talvez assim / Neste poema /Ardas por fim / Saias de cena!», sugerindo o desejo, hipotético, de afastar de «cena»: a asfixia, a cegueira e a arrogância do poder opressor.

Faz-me lembrar o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, de que deixo os dois versos iniciais: «Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar».

Parabéns.

José Almeida da Silva disse...

Onde se lê " não poder ser», leia-se "não pode ser"; a vírgula colocada entre "nível do" e "interlocutor" deve ser retirada. Na citação das duas estrofes finais: "Nós faremos" tem de ter o sinal gráfico- interrogação (»Nós faremos?»). Peço desculpa pelas gralhas.

Ana Luísa Amaral disse...

Cito o José: "Marlene, essa abordagem que fazes ao tema proposto é muito original, de duplo sentido, e como no anterior tem um ritmo muito musical que me agrada." E concordo em absoluto. O José tocou no essencial: o duplo sentido. Sem falar nela, falou nela, na ironia, aqui muito bem utilizada! Mais ainda pela simplicidade formal...Muito bem!