quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A data festiva

Um silêncio de prata e velas acesas
na data festiva.

Olhos grandes ruminam a presença de Reis
andrajos de púrpura, coroas sujas de areias
outrora cegas de luz. As orelhas altas de
asno, o sopro quente, os dentes largos
os invisíveis laços a elevar braços, mãos
e o sorriso do Menino junto a sua Mãe:
manto azul, debrum de pelo, rosto terno
de sentir as ideias concebidas sem... o
pecado de vaidades e sinos dos publicitos
paraísos; reais lugares de tudo querer.

A estrela sem fio de balão a fugir
e o medo do Inverno, do frio,
dos falsos mimos na época festiva.

O Pai, homem de tábuas, aplaina a árvore
torna macia a natureza rugosa da casca
alisa o fuso e a roca, entalha o encaixe,
a cruz de pau que ampara o leito-berço
de calor seguro nas palhas deitado. Agora
usa o cajado de posição elevada, controla
perigo, o imprevisto susto de pés de cabra
nos raios de ouro, incenso, mirra e o fumo
do turíbulo, o hino, o murmúrio a ladainha.

Só não se assusta o Menino, palmas exaustas
dedos de sina, rosto aberto, lábios de menina
e os restos de um trinado e um sorriso que
abre e fecha, enleia e não termina.

Sendo assim esta certeza - a do Menino
também devo acreditar, ser capaz, ser maior
do que a barreira, perna longa de desertos.
Ser mais oásis e miragem de bossas cheias
nos hiatos de remorsos na passagem.
Ser mais macio que choro de nuvem de gotas
desesperadas, desamparadas no chão ao cair
e mais ricas nas misturas do ventre mãe
nas fissuras dos magmas interiores onde
se espraia a lava e se expande a fogueira
fluída de um vulcão.

Sendo, sempre sendo mais
que pó amorfo nas bocas secas do vento.

No manto céu
uma miríade de estrelas, a constelação
(pontas de alfinete no veludo azul)
e os pirilampos faróis alumiam
o barco à deriva.

As ondas divinas guiam
ao colo seguro das baías
nos dias do Menino
na data festiva!

1 comentário:

Elza disse...

O presépio a 'navegar' nos medos do Inverno, do frio, dos falsos mimos. Apenas o Menino de "sorriso que/
abre e fecha, enleia e não termina." e a sua certeza de que a bom porto chegará o "barco à deriva". Quem é na verdade este Menino? E que importa? Assim deve ser também o Natal, porque não? 'Que farei quando tudo arde?' Um sorriso e uma certeza, que "as ondas divinas guiam/ ao colo seguro das baías..." Feliz Natal José!