segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Exercício 3

A poesia começa quando um sábio coloca no lugar do mar um relâmpago ou simplesmente quando um idiota diz que o mar parece azeite - a poiesis estendida nos versos dos poetas como um fio grosso e firme de mar. Em poucas palavras estão enunciadas as artes poéticas de Pavese e de Nava (refira-se que o poema do último se intitula “Ars poetica”). E se os enunciados se arriscam a diluir-se por tão aparentemente breves ou ligeiros, permanecem, contudo – entranham-se pela estranheza e pela inovação e cravam-se no subconsciente do leitor. Não é afinal essa a inefabilidade da poesia? Não é o poema essa descarga eléctrica, que se desenha entre nenhures e algures e habita bela e sinuosa uma inesperada onda sonora - luz indizível com corpo de melodia? Assim o é para os poetas e ensaístas que fundaram a Fundação Luís Miguel Nava. Para eles “Relâmpago” é uma espécie de sinónimo de poesia (possuem uma revista de poesia que se chama Relâmpago). Para um grupo de alunos de escrita criativa a poesia é um “mar [que] parece azeite” (possuem um blogue intitulado O mar parece azeite).
A imensidão, a pureza, a luz, a beleza, a densidade e o mistério moram no mar, no azeite e no relâmpago, ou seja, em qualquer processo criativo. Poetas, plantem oliveiras, semeiem temporais e vigiem o mar.

3 comentários:

Nuno Brito disse...

gostei muito do teu texto Cecília,


o mar parece azeite!

liliana disse...

Parabéns. O texto é muito bonito. Adorei especialmente o final, plantem oliveiras, semeiem temporais. Muito bom !

Ana Luísa Amaral disse...

gostei imenso! Bela frase, esta: "Não é o poema essa descarga eléctrica, que se desenha entre nenhures e algures e habita bela e sinuosa uma inesperada onda sonora?"