sábado, 21 de janeiro de 2012

um poema para adormecer - freud conhece as linhas da mão


imagem daqui

freud conhece as linhas da mão
fala sempre que me aproximo e ergue olhos de céu
na exigência de muitos dedos, na pele e nos pêlos, que são imensos -
e deita-se sobre as mesas, as cadeiras e os muros mais pequenos;
tudo por causa de um afecto e um pequeno tremor, um sossego
como a cor dos versos de alguns poemas -

e deita-se bem dentro da cama, sobre o colo das pernas
e quando muito quente, espreguiça-se e lento
sobe com toda a ternura pela raiz dos cabelos
e apaga os desertos -

freud compreende bem
e se fosse mesmo grande, tinha um ombro do tamanho do meu
e se fosse mesmo grande, tinha também, cabelos e mãos
e se fosse mesmo grande, era tudo o que sonhei, e sempre
uns lábios grandes de muitas palavras doces, no silêncio dos meus
uns lábios grandes de muitas palavras doces, para contar histórias
antes de adormecer -

e no fim, quando as pestanas caíssem na brancura de uma linha, mesmo branca
se ouviria um som, lá ao longe, um shh…! shh…! shh…! um sonho bom
e um ligeiro tremor, que não seria o seu

um ron-ron…um ron-ron…
um ron-ron que fosse o meu -

josé ferreira 20 Janeiro 2012