quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

tesouro intangível

estava uma aranha na parede
junto à esquina do postigo,
quem vem a descer as escadas do sobrado.
uma aranha enorme.
acto contínuo tirei o sapato e
esborrachei-a.

o bicho estava grávido
e um enxame de miniaturas de cabecinhas
com patas a mais
desceu a parede até ao soalho -
vagarosamente.
segui-o com o olhar
que se me foi encharcando de lágrimas
com sabor a pó e a culpa.

tu vieste saber de mim.
deste-me colo para eu chorar a vergonha
e perdoaste-me no fim.
raquel patriarca
vinte.julho.doismiledez




2 comentários:

Anabela Couto Brasinha disse...

Olá Raquel

Estava a ler e parecia que te ouvia a dizer o poema,

poema de coisas tão importantes.
Abraço apertado

anabela brasinha

josé ferreira disse...

Olá Raquel

concordo com a Anabela, escuta-se a voz, a tua voz em muitas partes do poema. "desceu a parede até ao soalho - vagarosamente" ( este advérbio mais lento na leitura) e ganhando emoção e mais velocidade "segui-o com o olhar/ que se me foi encharcando de lágrimas"(as mãos sobem até aos olhos) " com sabor a pó e culpa." (ainda em voz emotiva) e depois partimos para o gran finale. é um privilégio que temos, ao saber a quem pertence o poema e conseguir ouvi-lo. gostei muito.

Abraço

José