sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

magma


Ángel Charris "O gato de Gerhard Richter" 1998


peço que não me peças o silêncio
o magnânimo que me acompanha
de lábios fechados, mudas palavras
para afirmar tudo o que já sabes.
retomo indefeso todo o desejo
mesmo que submerso de segredos
sob cores de uma máscara de veneza.

peço que não me peças o silêncio
a âncora do fundo, que me atravessa
corpo, braços, mãos e mãos e tudo
sabendo que são líquidas e inclinadas
as águas mais profundas do meu rio
e levam, levam, levam ao mar.

peço que não me peças o silêncio
quando sinto nas voltas das ondas
as tuas mãos compreensivas e circulares
e procuro em cada gota o grão de sal
que povoa todos os nossos lugares
de letras, de poemas e gavetas
de sinais. as belas rosas de ventos
de norte a sul, depois do cair dos poentes.

não me peças o deserto. o nosso deserto.
por isso recomeço. recomeço
como um gato manso no teu muro branco
e peço, peço que nunca me peças o silêncio.

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