domingo, 25 de janeiro de 2009

A neve a entrar nos teus olhos de sol
sou eu
a humanidade orgasmática a suar, a vir-se
em quentes frios espasmos,
a neve que te entra nos olhos
Sou eu, o que rejeita a publicação a Joyce,
a que tira as manchas de sémen nas camisas de Proust
a que abraça Rober Diaz, a que chupa Borges
pessoas passo a passo com frio a transpirar
a consolar-se a cada perda
Sou esta humanidade inteira nuclearmente ansiosa de riso e de calor e o meu suicídio será um povo etnicamente puro pegar no seu míssil de prata -
sou o ditador a comer iogurte de morango depois da limpeza étnica
as estrelas brilham para eles
a gente de verdade consola-se à escala humana,
a mais perigosa a Maior
E sou tu, a ler este texto,
e agora no rio está reflectida a nossa cara, a múltipla perspectiva
menina a arder com Messenger ligado

Nuno Brito, 2009

2 comentários:

Elza disse...

Cá estás Nuno, entre a riqueza das tuas imagens e o choque por vezes brutal que tentas provocar em nós. Gostei especialmente desta ideia de que tu és tudo. És a neve, como és a humanidade, és o que rejeita, o que abraça, o ditador... E és nós! Que te estamos a ler. Gostei!

António Pinto de Oliveira (António Luíz) disse...

É preciso ( e sempre possivel) compreender esta "amálgama" do Nuno. Cogito: haverá um "eu" que se permita extracorporal?. É presumível e não só em poesia... A insatisfação racional, e o poder de transmitir a irreverência, e a intolerância , para que fiquemos bem na nossa intimidade!...Poderá por xs o tal "eu extracorporal" ser tudo, no sentido de fazer melhor e de tudo corrigir à sua volta? Criticismo exacerbado apenas? Ou o perfeccionismo levado ao sublime, ao inatingível?... Mas para se ser tudo "in extremis", temos que antes saber ser apenas algo, ou já termos passado a fase "do saber ser nada". Conseguir este equilíbrio entre o ser tudo (dono do humanismo, ditador vil e infame, neve,amante activo...)e às vezes ser nada (ser totalmente passivo, silencioso, apenas e nada mais que observador,insensível e não emotivo, ou simplesmente ser-se nulo ou zero... ) é o óptimo poético para mim... Pela bela descrição e pela fatal obrigatoriedade da reflexão , Parabéns Nuno