terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Um poema de que gosto

Um dos primeiros livros que li há muitos anos atrás numa
mesa partilhada da Biblioteca Municipal do Porto,
chamava-se "A secreta viagem" de David Mourão Ferreira.
Guardo na memória essas descobertas e alguma propensão
para nem tudo desvendar, dar lugar ao segredo.
Em homenagem a esse lugar, que pode ser a cadeira e
a mesa larga onde me sentei para descobrir o encanto da
poesia, deixo-vos um poema deste autor.

A escada sem corrimão

È uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quantos mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe.
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.

1 comentário:

Rio disse...

caramba, dei isto na escola... :)