quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Os poemas saem de passagem

Delineou-se um segundo poema que dedico a todo o grupo das quartas-feiras, aos presentes e os ausentes que também recordo com saudade. Mas ( e é sem dúvida o "mas" mais mportante ) o mais precioso liame que nos uniu foi e é a presença e a voz da nossa mais que tudo "prezada" amiga Ana Luísa... que alimenta fogueiras e nos faz arder no lume bravo ou manso dos poemas, de muitos poetas, limando as arestas, polindo as superfícies, fazendo um pouco mais do pouco que ainda somos na arte de poetisar.


Os poemas saem de passagem

"o que fazer quando tudo arde?"
- Poesia

As janelas abrem
os poemas saem de passagem
versos e rimas; ritmos símios
trajectos de lianas nas selvas
da mensagem.

Vertigem sem sinal antes do fim de página
nas costas de um formulário, benefício
exacto de um suspenso final
abrupto se descubro
que se esconde a veia
revolteia o tema
no consumé das palavras, nas saladas
das ideias, ratoeiras de pontes,
vidas e contos, cegonha de fontes,
bacia das baías, promontório,
esquinas das memórias
Rainhas!

Seguem os ventos, a rosa dos sentidos
-sérias ou traquinas as melodias.
farinha de afectos ou castigo,
ironias desfolhadas aos pedaços,
filosofia; jardins, vestidos,
maresia,estrelas, lua,
recantos e cortinas, os contornos
e os traços das Marias!

Pesam de socorros como lastro
os poemas.

Mares de surpresa,
fluido plâncton de diademas,
anémonas e corais, golfinhos
e baleias, coloridos palhaços
tropicais de leme e brânquias.
Melodias de Corelli, paraísos
de túnicas, finas musas
no cintilo de cristais!

Às quartas-feiras os poemas
e as magias, bençãos divinas,
esquiços de traços e linhas,
sensíveis liames imersos
na descoberta das fatias;
bolos de cereja e licores,
lumes vivos, pés mansos razias,
acertos, partilhas unidas.

Quando chega a noite
abrem-se os poemas
um vaso de estrelas
a planta do céu
o aroma dos dias!

5 comentários:

Joana Espain disse...

Muito obrigada pelo poema. Adorei. Mergulhado num imaginário próprio, cheio de vida e música.

Elza disse...

Gostei imenso da imagem da selva das palavras e da poesia que corre (ou escorre) por lá. E adorei os versos do final: "Quando chega a noite/ abrem-se os poemas..." Um pouco aquilo que sinto que acontece com a nossa poesia, mas que não é fácil de explicar ou pôr nas palavras. O José conseguiu!

A. Roma disse...

José, tocam de passagem os seus poemas. Muito especial entre especiais este poema. Retrato harmonioso, delicado, uma ode subtil às paisagens floridas do versos soltos que assistimos a nascer. Para quem, como eu,anda com imensa dificuldade em escrever poesia uma oferenda preciosa.
Não posso deixar de festejar consigo:
" Vertigem sem sinal antes do fim de página
nas costas de um formulário, benefício
exacto de um suspenso final
abrupto se descubro..."

e ainda :

"Mares de surpresa,
fluido plâncton de diademas,
anémonas e corais, golfinhos
e baleias, coloridos palhaços
tropicais de leme e brânquias."

Que nos surpreendam os Mares!
Abraço

M. disse...

José,

No fim do trabalho, quando os olhos parecem trazer sobre as pálpebras os kg do dia, não é a janela de casa que abro (o frio me demove). É nesta janela que espreito, e o efeito é o mesmo. Nela a mesma lua e tantas outras estrelas. Nela imagens bonitas, que fazem um lifting automático aos olhos enrugados da velhice do dia. O seu poema levou-me para um imaginário da terra do nunca. Uma espécie de universo paralelo onde cohabitam poetas e aspirantes e onde os poemas voam e saem de passagem. Destaco o que considero perfeito:
"As janelas abrem
os poemas saem de passagem
versos e rimas; ritmos símios
trajectos de lianas nas selvas
da mensagem."

Obrigada mais uma vez

josé ferreira disse...

Obrigado a todos pela poesia dos vossos comentário. navegar no mar dos vossos versos é a certeza da permanência e garantia que este magnífico ar que se respira no nosso blogue não é de passagem, acrescenta-me, aprendo convosco.