domingo, 23 de novembro de 2008

Coisas que partem e fogem

Quando sem engenho
Em ti me empenho
O verso não pulsa
A imaginação entope
Não há circulação
Há coisas a fugir
Esvaem-se em letras
As palavras mancas
Que tentam pintar
Ideias brancas
O cérebro estanca
O que o alimenta
Recusando o que é desfeito
no interior do meu peito

Joana e Marlene
(20 de Novembro de 2008)

3 comentários:

José Almeida da Silva disse...

Gostei muito do resultado deste trabalho poético. Patenteia bem a necessidade do distanciamento entre «o momento da emoção» e «o momento da recordação dela», para que haja efectivamente poesia.

Destaco especialmente estes versos:
«Quando sem engenho /Em ti me empenho /O verso não pulsa / A imaginação entope...».

Parabéns.

josé ferreira disse...

De certeza que a imaginação não entupiu, nem as palavras são mancas, nem as ideias brancas, um resultado onde a contraciclo fica a poesia no segredo, no interior do vosso peito.
Gostei muito! Parabéns!

A. Roma disse...

Li em voz alta (o que me esqueço constantemente de fazer) e reparei na musicalidade agradável composta com humor no vosso poema. O poema lembra-me a timidez, neste caso, uma timidez poética, que para ser ultrapassada recorre a uma ironia que subtilmente protege-se com o desvalorizar do sentir. Lembro-me agora, dos vossos risos cúmplices na altura que estavam a fazer o trabalho - foi inevitável observar :); conseguiram assim proteger os segredos( que se adivinham no poema), e assim criar o efeito de aumentar a curiosidade no leitor.
Quantas vezes na vida a timidez é escondida por um sorriso, por uma piada, até por uma observação disparatada que espanta até quem o diz. A mim pelo menos, confesso, acontece-me não poucas vezes.