domingo, 5 de outubro de 2008

Não é certa a minha dor

Não é certa a minha dor
É um incerto sentir sem medo
Perdida entre o desejo e a bravura
Entre a coragem e a brandura da tua fuga

Já não sei mais a tua cor
A máscara lenta que pões e tiras
Como um fardo de dor insolente e fria
Como uma alma vazia que descarregas em sentir
Onde estão as tuas mãos que ainda agora sentia?
O teu calor estranho se desfez em ar
Teus beijos etéreos são vazio em nada
Puro vácuo de abstracção

O meu ar sem o teu ar
O meu nome sem o teu nome
A pura e delicada incerteza da existência
Perdida num descorrer de sentido caótico
Do acaso em que alguns acreditam sem pensar
Da fé que alguns apregoam sem dizer
Do nada que carregamos às costas
Nos segundos de pausa do relógio do tempo.

Amarra a minha alma à tua
Grita num repente que queres viver rápido
Que agarras tudo num segundo para perder a cor da lógica
E agarrar os números soltos da insensatez
Com um travo de doçura e loucura
Com um esgar de dor e saudade
Sem lágrimas nem arrependimento
Sem fome nem sustento
Só dias de riso, música e dança
Em que o coração não se cansa de bater
nem se ouve na cadência louca da arritmia
Desde aquele dia em que te perdi,
na desafogada confusão da mente indecisa
A teia de pensamentos que nos prende ao chão e nos arranca do céu
O breu de cada perda
A calma aceitação da realidade num entardecer
Ao ritmo enluarado do asfalto que se perde nas ruelas
Das curvas soltas do teu riso
Da dança incauta do teu beijo
Um sopro aberto num sorriso
Em que me vês e eu te vejo.

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