segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Exercício 4

“Que bom deixar-me estar na oscilação discreta
Que nasce do teu corpo e me transporta
A essa embriaguez chamada rima”
António Franco Alexandre


Fui ao teatro naquela rua estreita
sentar-me na cadeira à larga à tua frente
Tinham-me dito que vista de perto é que eras
Liguei os projectores e o som da tua imagem
e instalei-os nos meus sentidos
sem maquinaria de cena só sinestesias

O teu aparelho fonador bailarinava graciosamente
enquanto eu me expandia em exaltação
Vi então a primeira gotícula de suor a insinuar-se na tua fonte
e esvaí-me em sede
Os teus dentes brandos desejavam-me
só podiam desejar-me porque li-os
E os lábios? Ah… nus escorrendo brilho
Reparei depois no teu cabelo –
ondas de um qualquer mar cheio de cheiro
Nasciam na cabeça a foz era no peito
vale de brancura firme e deleitosa
Pus-te nua sem o teu consentimento
enquanto enrijecia de um gozo vindo do centro

A tua voz de diva tenra a masturbar-me sem mãos
até aos aplausos… até ao fim dos aplausos
(Terei de voltar noutro dia
Sentar-me na mesma cadeira
E concluir-te a dramaturgia)

Jacques, o espectador

7 comentários:

Nuno Brito disse...

texto com uma sensualidade muito forte e viva,- muito sentido e intenso
Jacques o espectador !
Gostei muito

Nuno Brito disse...

brilhante a ideia de um espectador obcecado, exercício de muita sensibilidade

Elza disse...

Também gostei muito da ideia do espectador. E o final... brilhante!

raquel patriarca disse...

acho o texto bonito e penso que tem pequenos pormenores impagáveis como o sentar-se "à larga"... uma atitude masculina muito natural.
R

Ana Luísa Amaral disse...

exercício que denota muita criatividade. gostei da montagem do estereótipo a fazer-se por via do voyeurismo, geralmente mais associado ao "masculino" -- aquilo que em teoria geralmente se designa por "male gaze". não será inocente também, é claro, o nome deste espectador - jacques...

Maria do Céu Melro disse...

Este corpo é o palco embriagado da palavra em movimento que se deleita e explode a cada verso. Parabéns Ceci

Anónimo disse...

Tens que ler muito y muito melhor o António Franco Alexandre para perceberes que estás a caricaturar. Quero dizer não confundas os planos. Quero dizer o teu exercício de péssima "técnica" faz uma utilização ridícula das coisas y palavras, resvala para o ridículo.
Quando souberes ler o AFA vais perceber o que te estou a dizer de forma suave. Lê melhor! Saberás decidir melhor que não é um ajuntamento de palavras que trarão sentido às coisas. Se reparares bem! P.Ex. dos versos do AFA há sempre um 3 4 5 sentido ( Isso é o GENIAL!). No teu Exercício mal está esgalhado um sentido. Vale.
Procurei ser construtivo na crítica.