quarta-feira, 28 de março de 2012

lua crescente





uma lua crescente e branca venceu a noite.
aquela noite que por vezes sem chave
não abre as portas e se perde na estrada
procurando palavras
procurando sempre palavras –

é grande o poder da lua na noite original.
a noite original é aquela que não tem regras
a noite dos aromas das glicínias maduras
a noite que não é mão fechada nem praia deserta
a noite que se debruça sobre as águas e sobre as ondas
onde há um barco ao largo sem visão de terra
o barco de um sonho que caminha com pés de tábua
sem remos sem velas por vezes magoado –

e a lua crescente crescendo na noite mostra-lhe uma estrela
como quem desce de uma longa escada para lhe tocar o cabelo
para lhe iluminar os olhos tapar os ouvidos e erguer a cabeça -

e a lua crescente traz uma luz no mar e senta-se no barco
um barco em forma de gente de pés molhados –

e o mar compreende tudo e fica iluminado
abre uns lábios brancos
e na força do vento e de vagas incessantes
ergue uma mão gigante de espuma e de sal
e mistura barco e lua de uma só vez
de uma só vez na hipnose do tempo
como se solúveis
feitos de uma mesma essência

a lua no barco e o barco na lua
assim de repente –


josé ferreira 28 março 2012

1 comentário:

liliana disse...

José, que bela e hipnotizante viagem com a lua. Gostei muito!