quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

blocos de embalo


deitou-se ao meu lado de deslize
alisada por todas as mãos
em novos vasos rápidos
à procura do líquido morno dos bichos
há dores que se aninham quando lhes toco
rendas de algoritmos que me entram pelos olhos
a corrigir campos de gaivotas vermelhas
e relvas de vulcões com asas
quis abraça-la, talvez um abraço
e no embalo o código foi-me adormecendo devagar
lambendo cada célula e prometendo o fim da divisão
sons de guerra ouviam-se ao longe na pele
e em terras caladas do cérebro
caíam asas molhadas
que esqueci
as dores têm forma
a de gaivotas sem asas
iguais a todos os braços
em todos os ritmos
de um único movimento
e o mundo segue o principio do aumento da confusão
(ou então nós é que lhe confundimos o fim)
mas não é a temperatura que faz a beleza da árvore

são blocos colapsados sem asas
formas simples de vazio
que fazem a árvore crescer-nos por dentro
e o mar
ao longe a confusão é branca
cortada pela linha do tempo
(a única que existe)
e por ela entram todos os vazios
pendurados em cada cérebro
e um em estado mais sublime parou
para se deitar ao meu lado
e fui adormecendo aos poços
enquanto bandos de gaivotas sem asas -

1 comentário:

josé ferreira disse...

Joana
è um poema intenso, profundo. um delírio de imagens interior onde há versos muito fortes e em várias tonalidades;
"rendas de algoritmos que me entram pelos olhos/a corrigir campos de gaivotas vermelhas/ e relvas de vulcões com asas" "terras caladas do cérebro"
"ao longe a confusão é branca/ cortada pela linha do tempo" e as asas que atravessam o poema até à suspensão final "enquanto bandos de gaivotas sem asas -". gostei muito.

Abraço

José