sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TEMP(EROS)

O tempo perguntou ao vento
que tempo faz amanhã.
O vento respondeu ao tempo
que o vento tem tão mau tempo
quanto o tempo de amanhã.

E as manhãs não eram minhas,
e tu não ias
e vinhas
e fugias pela manhã.
Adeus aos travos de vinhas
e conversas de hortelã.
Que tempo fazia hoje
Se não houvesse amanhã?
Que lógicas de distâncias,
de raios e circunstâncias
que fugiram da sertã?
Eu cozia a ventos Este
mas tu ias
e esqueceste
e afinal era amanhã.
Ou então talvez mais dias,
não há tempo, que manias!
E no entanto,
chovias.
E fugias-me aos temperos,
e mal dos meus desesperos,
que uns segundos de bacias
eu sentindo que te ias
choviam gotas mais frias
do que estava receita.
Um bom sorvete de chuvas sempre curou as manias.
Uns tique-taques mais quentes
e uns pinguinhos de avarias
e o tempo nunca foi nada
que não tivesse mais dias.

Hoje não está nevoeiro
E eu já sei que não podias.
E ainda assim contei os ventos
e as nortadas que trazias.
E nas ausências,
choveu mais lento
que as horas,
leva-as o vento.

Já não chovias.

O tempo perguntou ao vento
que tempo faz amanhã.
O vento respondeu ao tempo
que o tempo quase que é lento
quando há vento toda a manhã.

2 comentários:

josé ferreira disse...

a desenvoltura das palavras, das rimas, das sintonias, na expressão de um desejo de forma melódica em que transparece nunca desistência e sim o desencanto. um poema que se desenrola como o "trava línguas" de " o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem" e a conclusão o tempo tem muito tempo.

josé carolina disse...

Maria Inês.

Maravilhoso.

Carolina.