quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A fome do firmamento

O amante é como um irmão gémeo morto à nascença.

O sol fecundou uma terra-planeta, casa breve parcialmente comida pela estrela rival predadora, devorada por dentes da carnívora galáxia.
A grande cortina cobriu a casa para que o último filho do amor sobrevivesse. Às escuras, sem ser visto para não desvanecer.
Metade do planeta numa eterna noite errando,
amputado.
A outra metade - a presa; arrancada de tão visível, de tanto ser luz, alimento desfeito no ninho das paredes da nebulosa sangrenta.
A casa não girou. Alguém esquecido de dar corda à nativa esfera pendente no universo, onde a noite é sempre noite desprovida de seda, o dia é sempre dia inseguro animal à espera da sua vez.
Onde a noite é cúmplice pela morte do amante.
Onde o que foi dia, e gente, e jardim da casa
morre na boca do pássaro.

Já lá vem o cometa batedor
de radar e garras -
o espaço crepuscular não tem opção.

2 comentários:

josé ferreira disse...

António um bom regresso e um óptimo poema
"a casa não girou. Alguém esquecido de dar cordaà nativa esfera pendente no universo, onde a noite é sempre noite desprovida de seda, o dia e sempre dia inseguro animal à espera da sua vez"

Anónimo disse...

a espera de uma fome crepuscular
dá sempre saudades de virar
o tabuleiro
e derrubar essas pedras de dominó No domínio da noite o dia escurece
mais cedo

Quando amanhece?

9