sexta-feira, 2 de julho de 2010

tempos dela

Desta vez nem olhou para mim
dançava na roda
e o pescoço marcava o transe

havia Índios à volta
em sons de línguas verdes
nus da pele dela

e havia outros

autistas gelados
em danças de caça
sem pele

uma mão estava fria e a outra era inutilmente quente
e rodavam

à volta de quê - consegues ver
e lambia a mão fria

pelo fumo via-lhe os olhos
algas penduradas que arrastavam
o peso de toda a água do mundo

são iguais - dizia pelos dedos
Índios de gelo
e outros de magma que escorre
sempre envergonhado

queria avisá-la devagar
que era a luz de uma só perna
e milhões de braços dados
e o frio de dedos
não mortos mas de medos

sabia de hoje
de algas leves virtuais
e amores a monitores
gelados

e ouvia entre tambores

- nunca houve outros

1 comentário:

josé ferreira disse...

Joana neste teu poema há uma mística ,um ambiente invulgar, uma dança incompleta de quente e frio, solitária.
"algas penduradas que arrastavam /o peso de toda a água do mundo" "índios de gelo" "e ouvia entre tambores
-nunca houve outros" uma dança imaginária que por fim colapsa".
gostei muito!