quinta-feira, 22 de julho de 2010

(EN)GULA



(Es)passava passos ausentes, entre travos

e três passas.

Traziam-me espaços vazios e vontades não coerentes.

Para as desgraças,

a proporção em açúcares e colheres

de coisas quentes.


Entrei, sem alma nem pertences,

Contando pences e cascalhos de existências.

Não fosse eu segura e ciente

de sanidades e coisas semelhantes

certamente cederia à algibeira,

que em claros uivos e suspiros evidentes

chamava quem via com olhos

Mas decidia com dentes.

E que remédio teria

com tamanha gulodice?

Se as coberturas me abordam em descarada tolice?

Se os pastéis, as natas do céu

(Ámen p'ra quem as comeu)

Se os suspiros, os mil folhas,

(que para mil se vão tão cedo),

se desfazem à dentada

Num engano ledo e cego

que apetites

não deixam durar nada?

E sem mais que cortesias

"Boas noites", ou"Bons dias"

"Eram dois éclaires e duas fatias."

Mas que falta de postura,

Olhos mais do que barriga,

Eu que sem mais devaneios

Dou uma trinca mal medida,

e entre açúcar na camisa

e compota nos dois seios,

abocanho o meu pecado.

"Dizem que moras ao lado"

- entre trincas

e mais um bocado.

E sem mais do que migalhas,

e memórias de doçuras,

Se dão cabo de decências

E de linhas, e posturas.

Que enfado,

Sabe tão bem o pecado.

E Glória ao Pai, ao Filho

e ao Espírito Santo

E já nem rezo mais que comi tanto.

2 comentários:

josé ferreira disse...

Inês de forma rítmica e entre múltiplas rimas se "(es)passa" de tantos passos a "gula" doce de pecados.
gostei muito e também da fotografia que escolheste.
Parabéns!

Elza disse...

Gostei imenso da graça que imprimiste ao ritmo de todo o poema. E especialmente do final, muito bem conseguido, a gula foi tal que acabou com tudo o resto!