sexta-feira, 18 de junho de 2010

LIFE PRETENDING DEATH




Quando o mote é o amor finjo-me de morto
e mudo de conversa, de Veneza e de canal
e de hábitos nocturnos e tristes
e quando não posso fingir-me de morto
uso uma técnica em tudo parecida à vida
que um beijo plagia
na sua perfeição sufocante.

Pratico um certo tipo obscuro de sedação
procuro que a minha escola hipnagógica
aflija a tua pele de instantes
irreversíveis.
Por exemplo:
interessa-se sobretudo que o meu nível de consciência
se entregue a uma diminuição radical de luz e periferias,
mas que nunca perca de vista
o assalto que é preciso fazer sempre
que o outro morre também
quando o mote é o amor
e as práticas obscuras de ambos
acusam uma intimidade rasgada
precisamente no mesmo vínculo
perdido.

1 comentário:

josé ferreira disse...

andré gostei muito do poema a tentar esclarecer "quando o mote é o amor" a
"intimidade rasgada" de ambos. versos fortes a acordar quem lê "finjo-me de morto e mudo de conversa, de Veneza e de canal" "pratico um certo tipo obscuro de sedação""uma diminuição radical de luz e periferias" "o assalto que é preciso fazer" "que um beijo plagia na sua perfeição sufocante". por fim fica na distância das palavras "quando o mote é o amor" a ténue fronteira que invade o território do ser poètico e o assusta na consequência, razão pela qual se finge de morto.

Abraço