quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Mar de sentidos


Magritte " A condição humana" 1935


As águas do mar do norte gélidas de frias.
Manhã cedo de passeios nas beiras desse lugar;
passos em fio, marcas de sandálias que se alisam
no silêncio breve e branco das espumas
no ar descomposto das algas, na retenção
azul líquida de vasos, nos pés de bicicleta
em ritmos cardíacos, como ilhas
em movimentos de areia e águas, navios, navios...

Passeios de braços pousados e sombras no olhar
redondas nos sussurros do horizonte
cruzadas de palavras, audíveis, largas:

quem as diz? quem as traz fortes?

essas mãos dentro de mim, abrindo, abrindo...
o pó dos livros, as frases imperdíveis como ecos
sinais que se misturam de tantos, tantos modos
em rasgos longos, fumos, fumos, tantos fumos...
uma lava luminosa, quente, rosa-dos-ventos de rumos
que solta as lágrimas de púrpura, os sorrisos mais firmes
a essência mais límpida de um mar de sentidos.

2 comentários:

António Pinto de Oliveira (António Luíz) disse...

Belo poema, José. Dá conta da vital associação do ser humano ao mar, numa verdadeira e cúmplice interdependência. Apetece-me compará-la a um cogumelo gigante! Na base e haste todos os aspectos físicos de que tanto dependemos, e na parte superior ( como nuvem pairando sobre nós mortais) todo o pó,os ecos, as sombras e as palavras, os sorrisos , todos os sentimentos, e toda a nossa espiritualidade . Seremos nós uma espécie de míscaros gigantes transplanetários ? Até o mar (gélido ou tépido ) nos pode ajudar a sermos um pouco visionários, se desta forma formos mais felizes! Parabéns José.

josé ferreira disse...

Obrigado António. Realmente este blogue teve algo de premonitório nesta dependência encantatória de um mar de muitas observações, de muitas interrogações que por vezes transmito através de um sentir de palavras.
Soltam-se de vez em quando como relâmpagos e não há como contê-los, escrevo-os e partilho.