domingo, 26 de julho de 2009

S A U D A D E S D E A N G O L A ( em 7 simples actos )

1º acto: infância / puberdade

Escola primária de tão bela areia,
saltos à corda e ao eixo,
primeiros encantos juvenis;
corridas aos gelados
e na rampa do Salvador Correia...
doem-me as lembranças de Angola
de tempos felizes passados.

2º acto: grupo musical

Quatro calmos rapazes, originais,
espalhando simpatia e bela musicalidade,
"Diabólicos" eram líderes em reuniões pop
no Cine-esplanada Tropical,
... saudades de Angola e da performance vocal.

3º acto: faculdade de Medicina da U. Luanda

Exame de aptidão, marco estudantil,
pergunta sobre peritoneu
obrigou a resposta "do baril",
em 31 de julho saudades de Angola
por 35 anos de fulcral licenciatura!

4º acto: convívio e praias

fim de semana permanente em praia,
ilha do Mussulo e contracosta,
águas serenas
mais avolumam saudades tremendas de Angola
ainda em ressuscitação!

5º acto: guerra colonial

Guerra: terrorismo, ou libertação ?
Necessária turbulência
provocando triste fuga !? Ou descolonização ?!
Saudades de Angola não apagam brutal destruição...

6º acto: abandono e partida para " o Continente"

Amor, dedicação - a que outros chamaram "racismo",
muitos anos perdidos de convívio racial,
e um retorno sofrido a um novo País
que jamais colmatou saudades de Angola de forma total!

7º acto: guerra civil

Desentendimentos, ambições políticas pueris,
guerra de irmãos sem perdão,
de que vale ter saudades de Angola
se a lembrança de maus acordos
e dos mortos ainda está viva,
se os imbondeiros se curvam perante a dôr
e as acácias jamais se abrirão em flôr?!...


(António Luíz, 25-07-2009) - do livro em preparação
intitulado "Poesia pragmática", integrando todos os poemas pós-Curso
de Escrita Criativa de Set-2008 da Fac. Letras U. P.

2 comentários:

josé ferreira disse...

António

São memórias onde se entendem saudades dos lugares, dos inicios de um sítio onde já muitos estão destruídos. De propósito não nomeio essa terra de infância porque de alguma forma, mesmo que por vezes escondidos noutros factos que colocamos nas entrelinhas das nossas escritas,todos guardamos dentro de pequenas caixas estas recordações, boas ou más, na forma de "actos" de pequenas veredas ou espessos bosques na história de caminhos que levam ao crescer dos nossos ramos, como gosto de dizer: a árvore de muitas raízes que somos.
Gostei das etapas bem definidas e de um olhar do passado que tem implícita a vontade da mudança positiva de gentes, de vida, de um longínquo tão presente lugar.

Odete disse...

Gostei desta poesia, dividida em "actos", recordando uma vida... Uma vida que também foi a minha... Há imagens que não se apagam da memória. E Angola marcou a minha vida.