quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um poema de brincar

D.José perdeu o pé junto ao sapato
tropeçou caiu no chão
soltou ais até ao tecto.

Assustou em cima o gato
ao colo de D.Tina
por sinal muito achacada
a tão alta gritaria.

"Nhoc!Nhoc!" toca ao vizinho
chinelo a mão na anca
ar zombeta e descarado
tirando satisfação
de tamanho alarido
e de tanta aflição.

Abriu o trinco da porta
lá estava o desbocado
junto ao velho cadeirão
pernas ao alto
e todo o braço enfiado
num buraco do sobrado.

"D.Tina! D.Tina!
boa alma de vizinha!"
(não tem nada de santinha
mas tudo é permitido
na procura de final
na presente situação).

Volta ele:

"D. Tina! D. Tina!
Minha querida vizinha!
Quer ver que me esparramei
abri até ao rés-do-chão
e seguro o candeeiro
da sala em baixo
de D.Anunciação.
Surda que nem um soco
não ouviu a confusão
dorme a paz dos anjos
ressona como uma foca.
Que faço eu?
Se o largo cai em cima
se seguro caio eu!"

D.José então suplica:

"D.Tina! D.Tina!
Minha rica vizinha!
Vá lá baixo por favor
leve a escada manca
que está ali no arrumo
mesmo ao pé do corredor!"

"D. José! Oh D. José!
Já lá vou! Já lá vou!
Não grite tanto!
Já sabe como eu sou
desde que a Maria Rita
garota endiabrada
me arrumou com o livro
o do Camilo
"O amor de perdição"
junto ao ouvido
sofro de enxaqueca
dói-me demais a cabeça!
Fale baixo! Assim é que é!
Já lá vou! Já lá vou!"

Saiu D. Tina
fica D. José no chão.

Merecia fotografia
em três planos
um em cima
outra na descida
de escada na mão
por último de xaile preto
"Rrr..Rrr...Rrr..Rá...Rá...Rá..."
sem acordar
a D. Anunciação!

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