segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O tigre no castelo de Kafka

O Tigre no castelo de Kafka

“Caminante no hay camino, el camino se hace caminando”
António Machado


Uma estrada de prata
Onde se perdem os suicidas,
que leva ao centro da alma,
Borges perde-se num caminho bifurcado
que leva a um castelo
encontra um tigre a olhar para o grande espelho
o seu olhar manso e distraído
a quem os corvos chuparam a vida


no interior do castelo:
quero escrever como uma possessa
até o diabo vir com as suas mãos de cereja
tocar-me no ombro e dizer que o venci…
Sarah Kane a subir a estrada
A estrada da vida é a estrada da vida
Demoramos dois séculos a ligar o forno
Sylvia Plath a beijar Dante -


Kafka sabe que é perigoso escrever…
O interior do castelo está cheio de morcegos,
de corvos e caracóis - para escritores tristes


O tigre espia numa estrada que leva a Chernobill Celeste
imaginada por Sarah kane num diálogo eterno com Papini
as almas gémeas fundem-se

As mãos derretem por cima da serradura,
O que interessa é o processo


ele foi escrito / encontrado por Sarah Kane
No meio de um holocausto digital
Os anjos esquecem enquanto sobem
uma estrada que leva a um castelo – Por onde Kafka sobe
um tigre com consciência do ridículo Sonha África
Percorre as ruas de Praga com um passo Seguro e Forte
Para se escrever a si próprio numa língua que há de vir


Chegaram à Chernobill Eterna
a subir os anjos esquecem….


Nuno Brito 2008

1 comentário:

josé ferreira disse...

Nuno, sentado numa nuvem descreveste um Universo onde se misturam entes complexos e diversos como Borges, Kafka,Sarah Kane,Papini, Sylvia Plath. Ligaste-os ao presente através da fogueira nuclear Chernobyl, tornaste este caos celeste e sonhaste horizontes fantásticos no olhar do tigre chupado de vida pelos corvos. Juntaste um castelo, morcegos e caracóis.
Gostei muito deste poema de preocupações e mistérios encastoados, ressurgiu de novo esta forma invulgar de compor - a tua poesia!
Os holocaustos existiram porque existe o homem, o tal do "processo"
da complicação, do inútil, e cada um do lado de cá que o olha com horror e vontade de mudar é mais um a desiquilibrar a balança no sentido positivo da vida, vejo-te nesse papel através de imagens fortes, algumas vezes cruas, querendo abanar rotinas adormecidas!

Muitos parabéns!